CARTA A RAUL SEIXAS - O DIA EM QUE A TERRA PAROU

Caro Sr. Raul Seixas,

Gostaria de dizer-lhe que o Sr. não poderia ter sido mais profético quando escreveu a letra da música, "O dia em que a terra parou", lá nos idos de 1970. Não sei qual teria sido a sua fonte de inspiração para compô-la ou se foi apenas um sonho como diz a letra.

O fato é que o Sr. acertou em cheio na sua inusitada (?) previsão. Finalmente chegou esse dia. E ele chegou aqui no ano de 2020, mais precisamente em fevereiro, março, por aí... Prever o ano também seria demais, né? Posso lhe dizer que a Terra mudou muito desde que o Sr. se foi para o lado de lá. Na verdade, acredito que o Sr. esteja vendo tudo, que não é nenhuma surpresa o que acontece cá embaixo, até porque o Sr. ainda deve manter algum tipo de comunicação com o seu amigo "bruxo" Paulo Coelho.

E como o Sr. pode ver, o responsável por essa situação de parar a Terra chama-se COVID-19, mais conhecido por Coronavírus, embora seja um ser totalmente invisível, possui altos riscos de contaminação e, originário da China vem viajando pelo mundo afora, disseminando doença e morte por onde passa.

Assim, por causa dele, a população mundial vem se obrigando nesses 8 meses mais ou menos dessa coisa chamada "pandemia" a cumprir um negócio chamado quarentena. Acho que é a esse termo que o Sr. se refere quando diz na letra que “a terra parou”, pois o que estamos fazendo é exatamente isso, ou seja, ninguém mais sai de casa por um período ainda indeterminado, que vinha sendo prorrogado a cada 15 dias para evitar aglomerações (embora nem todos estejam respeitando, o Sr. sabe como é o povo brasileiro, né?) devido ao número de mortes cada vez mais alto aqui em nosso país.

Isso significa que o planeta inteiro combinou até um tempo atrás de ninguém sair de casa para nada, do mesmo jeito que o Sr. descreve na música:

O empregado não saiu pro seu trabalho

Pois sabia que o patrão também não tava lá

Dona de casa não saiu pra comprar pão

Pois sabia que o padeiro também não tava lá

E o guarda não saiu para prender

Pois sabia que o ladrão, também não tava lá

e o ladrão não saiu para roubar

Pois sabia que não ia ter onde gastar

[...]

E nas Igrejas nem um sino a badalar

Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá

E os fiéis não saíram pra rezar

Pois sabiam que o padre também não tava lá

E o aluno não saiu para estudar

Pois sabia o professor também não tava lá

E o professor não saiu pra lecionar

Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar

[...]

O comandante não saiu para o quartel

Pois sabia que o soldado também não tava lá

E o soldado não saiu pra ir pra guerra

Pois sabia que o inimigo também não tava lá

E o paciente não saiu pra se tratar

Pois sabia que o doutor também não tava lá

E o doutor não saiu pra medicar

Pois sabia que não tinha mais doença pra curar

A única diferença em relação à letra do Sr. é o trecho que fala que o “doutor não saiu pra medicar” porque “não tinha mais doença pra curar”. Muito pelo contrário. O que mais tem nesse nosso tempo são doenças para curar, por isso, o doutor não pode se dar o luxo de entrar em quarentena também. Senão, como é que ficaremos? Seremos dizimados por pragas invisíveis como essa?

Para o Sr. ter uma ideia até o futebol parou! De repente não está dando mais nem para ir ao estádio torcer porque os times não estão lá para jogar (e mesmo assim nossas autoridades querem voltar a lotar os gramados novamente, apesar do número ainda crescente de mortes aqui no Brasil, insisto). Mas, me desculpando já pela intromissão, acho que faltou um verso assim na sua música, um verso falando do futebol, que é a paixão já nem mais nacional, mas mundial.

Bem... a verdade, Sr. Raul, é que lhe escrevo essa carta na esperança de obter uma resposta sobre o fim desse nosso inferno, uma vez que o tendo previsto em sua música, o Sr. também poderia enviar uma outra letra aí de cima para o "bruxo", a fim de que ele seja portador de boas-novas para a gente. Ah... e o título até poderia ser "O dia em que a Terra voltou a andar"... o que o Sr. acha?

Na expectativa de uma resposta para breve, despeço-me aqui,

Atenciosamente,

Eu.

Alessa B
Enviado por Alessa B em 23/09/2020
Reeditado em 23/09/2020
Código do texto: T7070636
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.