Para o meu filho Andrey

Querido filho, eu, agora, estou olhando para você. Eu acabei de me divorciar da sua mãe e você sofre. Mudou bastante coisa de uma hora para outra. Tudo bem que eu e ela já não nos dávamos bem há mais de sete anos e os constantes desgastes e brigas criavam guerras intermináveis com a consequente perda da paz em casa. Você ficou comigo, ficou ao meu lado. Foi muito decisivo ao pacificar a situação com a sua energia e bom senso. Ontem, você chorou ao ser abordado por mim sobre a sua tristeza repentina. Estava angustiado e resolveu se abrir. Tudo ficou bagunçado de repente. Você, frágil, deixou a dor encontrar caminho lentamente. Está se sentindo sozinho, passarinho que chora, menino que precisa de um amigo. Eu abracei você e quase não pude suportar vê-lo sem um lugar dentro de si mesmo em conforto e aconchego. A verdade é que eu me desamparei e voltei a minha atenção, apenas, para aplacar as minhas dores. Esqueci de me deixar avizinhar pela sua dor. Você é adulto, alto, forte e inteligente. Mas, é o meu filho. Derramou as suas lágrimas. Eu andava desatento. Foi preciso ver ruir em fendas de um fogo lancinante as minhas vísceras egoístas de pai para ver que arrefecer a sua turbulência emocional era e é a única medida de salvação nossa. Eu quero que possa amar a sua Mãe com toda a intensidade que desejar. Não acredito na ofensa e na diferença inveterada como revanche jogada nas costas dos soldados que não escolheram aquela guerra. É, inclusive, pelo amor dela que o chão retomará a estabilidade sob os seus pés. Ontem, você me disse que chegara até esta situação de estar morando comigo sem estar preparado para realizar coisas, por assim dizer, triviais no lidar diário e nas responsabilidades de uma casa. É muito provável que tenhamos sido eu e ela - cientistas bem intencionados em um laboratório com as portas fechadas. Cometemos o equívoco de não incentivar laços com os familiares. Pretendíamos levá-lo a preencher a vida com agendas vem arredondadas e repletas de grifes sociais que o ligassem a bons cursos e experiências fantásticas por lugares magníficos. Não que não tenha sido uma estratégia, de todo, tão infrutífera. Foi bastante interessante até o ponto em que o privamos do sagrado direito àquela necessária convivência com os entes familiares. Na verdade, paramos à porta da sua resistência pela nossa falta de insistência em ter que promover aquela aproximação. E, quando veio a dor do divórcio, veio o sentimento de que não havia outros ombros para deixarem as lágrimas desobstruírem esses nós tão embolados. Eu sei, também, que você é um jovem do bem. Tem princípios de justiça e valores inegociáveis. É privilegiado em sua mente criativa, que não se esgota quando o assunto é pensar sobre soluções diferentes. A sua geração criou trincheiras em seus quartos. Viaja mundos inteiros sem se apartar dos teclados. Eu quero muito construir bons hábitos com você em caminhadas regulares, passeios à casa de amigos e familiares. O solo é próspero. Podemos muito seguir nessa direção. Eu tenho uma pessoa que me completa muito e me ofereceu uma oportunidade para viver um amor incrível entre um homem e uma mulher. Eu gostaria tanto que você deixasse que ela se aproximasse de você. Ela é uma mãe tão maravilhosa e tem uma capacidade de transformar as dores da vida em inclusão, generosidade e carinho. Não é uma imposição. Eu sei que é parte da jornada. É este caminho imperecível do se permitir fazer parte, conhecer, abrir o coração. Eu só quero reafirmar que sou só um caminhante que tem em você o motivo poderoso para amá-lo como um maravilhoso presente de Deus. E você pode contar comigo. Sou teu pai. Sou quem quer encontrar com você novos sentidos. O seu aliado para atravessar regiões de conflitos. Porque eu o admiro como amigo. Meu querido e inigualável filho. Juntos e prontos para novos desafios.