A carta que eu nunca te escrevi

Há muito tempo eu devia ter te escrito, mas não o fiz! Há muito tempo eu guardo estas palavras não ditas, mas creio ter chegado o momento de pô-las para fora. Eu não tenho mais tempo! Precisa ser agora... Então, essa será a carta que eu deveria ter te escrito, mas que eu nunca te escrevi. Não irei me demorar, pois já pensei e repensei mil vezes sobre o que iria escrever.

Começarei pedindo mais uma vez, para que você plante pelo menos um girassol! Quem sabe assim, finalmente não apareça alguma borboleta por aí. Esse é um dos meus últimos pedidos.

Te peço também, perdão! Por anos eu deixei o orgulho tomar conta de mim, pensando que eu tinha motivos para ser orgulhoso, que era justo! Quando na verdade nada disso importa! No fim, não importa se eu estava certo, o tempo tirou minha razão e minha paz. Nada mais faz sentido.

É estranho, quando nos vemos em situações terríveis, vários de nossos problemas anteriores, que achávamos serem grande coisa, se mostram ser na verdade, apenas pequenos empecilhos que muitas vezes nós mesmos evitamos de resolver, por ainda termos fôlego de nos enrolar em coisas piores.

Eu deveria ter voltado atrás! Me perdoe! É tarde pra mim, mas talvez não seja tão tarde pra você. Não cometa o mesmo erro que eu, jamais! Não se envenene com orgulho, ou com ódio, de fato, isso vai roubar sua vida, como roubou a minha. Eu tive notícias suas! Soube que você se casou, teve filhos e que agora vive numa pacata cidade ao norte. Eu fico feliz! Mas soube também de tudo o que você passou até chegar aí! Dos terríveis dias de solidão. Eu lamento tanto… Eu achei que você só entenderia seus erros, se ficasse sozinha! Se sentisse a dor das suas escolhas. E enquanto você batalhava para sobreviver, eu me matava um pouco a cada dia, esperando a sua queda.

Moça, é tão estranho! Agora, à beira do fim, eu consigo enxergar alegria na vida de uma simples folha brotando do chão! Tudo me parece muito escasso, e por isso, muito valioso! Talvez porque cada som, cada toque, cada relance, possa dar luz ao meu último suspiro. Isso me assusta… Mas também me anima!

Me parece verdade o que dizem alguns filósofos:

"Você só aprende o valor da vida, quando fica de frente com a morte."

Mas enfim, acabei me alongando demais no que eu pretendia te falar. Aí está! Não sei como terminar, então direi apenas adeus.

Para: Luz. F.

Alvaro De Azevedo
Enviado por Alvaro De Azevedo em 20/08/2020
Reeditado em 31/08/2020
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