O grande carro velho
Estou deitado a horas na cama de solteiro. Estou nu, eu mal tive condições de me vestir quando cheguei em casa. Estou vulnerável. Descoberto.
Eu desci tropeçando nas escadas ontem, me lembro vagamente, pendurado no corrimão. Posteriormente, a chave brigou com a porta até vencer e abri-la. Minha cabeça dói, meu corpo está cansado mas minha mente e meu coração são os mais estilhaçados. A ressaca é cruel mas sua lembrança é mais.
Eu não quero me levantar. Eu sei que você está no sofá esperando a me encarar, seus olhos dizendo tudo que você não sente. E você está na cozinha, sentada na mesa acendendo a vela no centro enquanto apaga seu sentimento, seus dedos escrevendo a falta de amor nos meus cabelos. E você está no quarto no andar de baixo, as pernas abertas e coração fechado. Você está no corredor, vestida com as minhas roupas, se olhando no espelho e imaginando alguma coisa melhor do que envolver-se em mim. Está no banheiro me lavando pra fora de si.
Você nunca esteve neste quarto e é por isso que eu permaneço aqui, sem ver tua falta preenchendo minha casa, mas sentindo ela preenchendo meu coração. Eu choro, mas as lágrimas não lavam você daqui, eu ainda sou tão seu quanto você não me quer. Jogado fora, quebrado, apenas me movendo a base de álcool como um grande carro velho, fumando, sendo arrastado várias vezes para conseguir atravessar o dia lamacento e chuvoso que se tornou meu eterno hoje.