Superação
Charky City - Semersooq / Groenlândia
Terça-feira, 28 de julho de 2020
13h20min
Caros 23 fiéis leitores e demais 36 de quando em vez
Que esse Bacamarte é um cronista insuperável tuzes já sabiam, mas creiam, eu mesmo não o sabia, até essa última semana. Pois eu entrei numas de comparar o jovem Bacamarte com o veterano Bacamarte e resolvi ver se era possível repetir alguns feitos. Não, é difícil até para mim mesmo me superar. Tentei a semana inteira, mesmo sabendo que antigas pretensões hoje soam bobagens para mim - o que é o máximo de autocrítica a que me permito -. Queria ver se ainda era capaz de repetir alguns velhos truques, romper antigas marcas. Ví-me tendo de lembrar de como eram esses truques, de como eu fazia certas coisas, mesmo. E porque isso, agora?
Bom, dia 1° de agosto faço 9 anos de Recanto das Letras. Nove anos que eu tive o prazer de conhecê-los e tuzes a oportunidade de compartilhar de minha genialidade literária através das magníficas crônicas que publico toda sexta-feira às 17h19min. Repararam que nesses meses resolvi arriscar uns textos diferentes das crônicas? Bacautogramas, Baikais, provérbios bacamartianos? Sim, decidi que era hora de mudar um pouco, sem deixar de ser cronista, e revolucionar também os outros estilos, deixando neles a marca de minha genialidade literária multifacetada. Tanto que agora estou escrevendo uma Bacarta pra tuzes. Só não usei esse titulo porque "superação" dava ideia melhor desse texto, mas ainda sairá uma Bacarta 100% pura - a carta Bacamarte - pra tuzes, em breve, prometo - e tuzes sabem que é mentira minha porque quem promete é mentiroso, embora eu seja um mentiroso sincero, desses que avisa que está mentindo -. Mentiroso, autocentrado, genial, lindo, inteligente e culto, eis minhas melhores qualidades - não consigo ser mineiramente sincero, verdadeiro e direto como um Sô Lalá, por exemplo. Só não vou citar bom amante aqui pois aos 55 ninguém mais joga os noventa, a prorrogação e ainda bate pênalti, acho que nem o infatigável Dart fazia isso aos 55, mesmo até hoje dando ainda duas cronicadas por dia, o Galo Cinza do Recife, o "chronic-machine" de Pesqueiro e Arcoverde, meu cronista pernambucano e recantiano preferido.
Bom, parando com o que eu mais gosto de fazer, o merecido autoelogio, voltemos ao tema dessa carta antes que eu me perca dentro da imensidão de meu vasto ego literário, banhado pelo oceano da minha vaidade. Dia 1° de agosto faço 9 anos de Recanto. Então busquei voltar no tempo e romper certos recordes por mim estabelecidos. Não deu. Como disse, e faço questão de repetir, sou insuperável até por mim mesmo. Nessa busca de superar-me e recordando velhos truques, andei por antigas vias e nelas encontrei muita gente boa, tentando as mesmas coisas que eu. "Ah, tu aí também!" Só quem vai no shopping sabe de quem também está comprando. Eu fui e vi as pessoas que circulam por lá e confesso de gostei de rever uns rostos antigos e ver outros novos. E gostei de ir às compras: quem se criou em biblioteca não cansa de carregar e abrir livros, recentes e antigos. Como eu disse, determinadas vaidades já não me dão mais tesão literário, mas já que eu estou com tempo mesmo, resolvi fazer umas antigas, enquanto ainda me dou ao desfrute de novas vaidades, pois vaidade é uma espiral infinita - parafraseando Gandhi - e o vaidoso coleciona a vida inteira o próprio umbigo, literário ou não.
Por outro lado, confesso, também vi que certos truques não funcionam mais e que, devo reconhecer, nem sei como obtive certas marcas que tentei repetir. Deu um trabalho danado e só cheguei perto delas, nem ao lado fiquei. Como eu conseguia fazer aquilo? Ia lançar pro centroavante, errava, mas pegava o goleiro adiantado e encobria ele, fazendo um golaço sem querer! Só podia ser isso, pois não consigo mais repetir esses lances. Dentre os meus vinte melhores gols, consegui igualar apenas o meu décimo terceiro e parei, exausto. Cheguei a pouco mais de 10% de meu antigo ápice - o que já foi algo grande, mas não de uma grandeza típica bacamartiana. Minha oceânica vaidade e meu imenso ego, confesso, ficaram abalados, mesmo que o tenham sido por mim mesmo numa luta desigual contra o meu próprio passado de glórias. Não dá mais para brincar do que já se enjoou de brincar, até porque, verdade seja dita - pelo menos uma vez, né -, já não se consegue mais mesmo, nem que se quisesse - e isso é o máximo a que eu me permito de humildade.
Bom, era isso. Volto na sexta-feira, 31, com uma nova crônica e outra no sábado, dia 1°, para comemorar o aniversário. Ou vou publicar só no sábado, não sei ainda. Ou só na sexta-feira, mencionando o níver de sábado. Ah não sei, não prometo nada, ficar mentindo o tempo interno dá muito trabalho e me cansa, mesmo eu sendo um especialista na arte de Pinóquio.
Inté. Fui.
Saudações literárias e crônicas.
Antônio Rollim Fernando de Braga Bacamarte