FALE SOBRE VOCÊ

Nasci em 8 de março de 1982 em um bairro de periferia, minha mãe costureira, meu pai açougueiro. Sou a filha caçula de três irmãs. Quando nasci, minha mãe falou-me que o que mais a encantou foi um bebê tão pequeno, de dias, saber sorrir. Assim cresci com uma infância tranquila e sem muito o que acrescentar, pois fui educada, além dos meus pais, por uma tia professora que me deu as primeiras instruções, fomentando em mim o gosto pelos estudos e minha avó materna que sempre me cuidava com muito amor, enquanto meus pais tinham que trabalhar.

Aos 11 anos de idade, na quinta série do ensino fundamental, descobri uma peculiaridade que me diferenciava de todas minhas amigas. Pois, foi nesse período que vislumbrei pela primeira vez na vida o que era estar diante de uma bela professora e viver um amor platônico e juvenil por ela no decorrer de 5 anos seguintes.

Aos 17 anos prestei meu primeiro vestibular para arquitetura, mas não passei. Meu pai alcoólatra, minha mãe assalariada, tive que trabalhar tão logo terminei o ensino médio. Também foi nessa idade que conheci minha primeira namorada.

Aos 22, aproveitando que podia custear meus próprios livros, me inscrevi para a faculdade de filosofia na universidade federal do Ceará e passei. Cursei três anos e faltando apenas um pra terminar conheci uma garota por quem fiquei severamente apaixonada e, como ela teria que ir embora pra Goiânia (2005) para assumir os negócios do pai que falecera, a segui e larguei a faculdade. (Meu primeiro arrependimento na vida).

A garota ia me ensinar tudo, menos o que era amor. Ela era de uma vida boêmia, com drogas e bebidas, recebia fácil os lucros dos negócios (imóveis alugados) e eu, que nunca gostei de ser sustentada por ninguém, fui trabalhar com vendas.

Três anos depois adotamos uma menina de nome Isabelle e estava depositada ali minha última tentativa de ver aquela mulher como alguém decente. Porém a lembrança mais forte que tenho é ela gritando com um recém-nascido ou fumando maconha pra não a ouvir chorando!

Em decorrência disso, tomei a decisão mais sensata da minha vida, a deixei com a pequena ao perceber que todo aquele comportamento era para tirar minha paz de espirito e me atacar, porque ela já havia percebido um ano antes que eu não a amava mais. Foi a primeira vez na vida que tive que acreditar severamente em Deus, pois foi nas mãos Dele que deixei aquela criança a qual chamei de “filha”. Por isso, em 2009, com 28 anos, voltei para Fortaleza.

Cursei uma faculdade particular em Gestão de Recursos Humanos e retomei a difícil rotina de vida acadêmica associada com o trabalho no comércio. Nesse meio tempo, 2010, reencontrei a tal professora de infância, que citei acima, numa palestra aberta ao público sobre filosofia, ela tinha 44 anos na época.

Nos apaixonamos. A esposa dela descobriu tudo e fui descartada. O que é de praxe numa situação como essas. Mas, estava tão engajada nos meus sonhos e objetivos que deixei aquela situação fluir. Afinal, havia conquistado, nem que fosse por um intervalo curto de tempo, meu grande amor juvenil.

Fiz meu MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e, de 2011 até 2017, construí carreira em uma grande rede de lojas de materiais esportivos. Segui até a Supervisão no organograma da empresa e, depois disso, negociei o encerramento do meu ciclo nesta. Ao sair, em 2017 passei 9 meses da minha vida viajando pelo Brasil.

Foi exatamente nesse intervalo, no curso de pós-graduação, que conheci minha segunda companheira em 2015, ela era gerente de recursos humanos, mesma profissão e mesmos anseios. A encarei como uma boa pessoa pra se construir algo. Mas faltou um pequeno detalhe, eu não havia me apaixonado por ela, como fui por meu primeiro amor. Então o que sustentava nosso “namoro” era meu sentimento de amizade. Isso não a agradou nem um pouco já que a situação se refletia em nossa vida intima e a mesma era completamente entregue a mim, mas não era reciproco. Então decidi terminar para não a aborrecer ainda mais.

Ah! Eis algo que deixaria meu texto enorme: as centenas de amigos que fiz em cada uma das fases de minha jornada e claro, meus esportes e minha yoga, válvula de escape para tudo o que dizima minha alma.

Aos 36 anos entrei na Ibyte, uma grande rede de lojas de tecnologia, e subi o mais alto que pude até chegar ao patamar executivo, mas quando me vi lá no topo, olhei para trás e vi que toda minha jornada foi para dar um mínimo de orgulho à minha família e não por mim mesma.

Agora com 37 anos estou tentando ver aonde me perdi. Buscando a mim mesma em livros, em desenhos, em meditações, em novos amigos...buscando...simplesmente em busca de mim.

Andréa Agnus, julho de 2019.

P.S.: Exatamente nessa data me descobri, me assumi, me enxerguei, compreendi meu chamado – havia uma escritora adormecida dentro de mim.

Essa carta, para mim mesma, é um último depoimento da Andréa que eu fui por 37 anos. Somente agora entendo meu sentido de ser e existir no mundo. Estou inteira.

Andréa Agnus (Escritora), julho de 2020.

Andréa Agnus
Enviado por Andréa Agnus em 28/07/2020
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