O Fim do Mundo nas Serras - O Dois místico
O verde esmeraldino da Mata Atlântica, o frio das altitudes provocando brumas, Cerração e Friagem: fenômenos da Serra, e o distanciamento dos portos do litoral provocando problemas da tireoide mexiam com o imaginário de quem ousasse enfrentar a Mantiqueira e seus leitos fluviais. Esmeralda e brilhantes do comendador.
Estes fatores aliados com a riqueza aurífera produziram o barroco, arte e misticismo. Todo um imaginário.
Vivi as décadas precedentes do pós-moderno ouvindo a cultura que afirmava “Passa de mil, mas não passa de ‘2’... dois mil, o fim do mundo está próximo” . Esta era a fala recorrente de minha mãe, e irmã mais velha, e sua família que viera da região de Desterro do Melo onde se lê no histórico virtual do município que “É mais conhecida esta Freguesia pelo nome de Melo do Desterro. Razão é que em 1761 para aqui veio um certo português de nome José de Melo, para cumprir pena...” ¹
Por aqueles descaminhos do ouro tudo ia além da religião, atingia-se à superstição com assombrações, cruzes, galos da madrugada, o medo do outro gerando olhares por banda de porta e janela semicerradas e gretas. Quem vem lá?
Pedro Nava nos dá bem esta marcação com sua obra em especial Baú de Ossos e Galo das Trevas.
E no caminho para o cruzeiro com o galo anunciando os pontos do coração – cardeais; figueira anunciando o tacho de ouro enterrado, ainda havia aquela inscrição na rocha mostrando a forma que a imaginação determina os olhos enxergarem um dois inscrito.
Aquele barranco do “2” parece que foi recortado. Há de se perguntar: por que é assim? Obra da erosão natural ou escavação? Aquela forma foi pigmentada por minerais que caprichosamente tomou o jeito de 2 ou alguém assinalou uma inscrição ali para marcar algo, já que a região é versada em mistérios e legendas?
Os olhos não cansam de ver, o imaginário se alimenta disto e falar sobre aquele dois parece ser um mantra, uma reza, uma referência lendária que se confunde com o real.
A Fia do Velão recorria sempre a este místico e pontuava bem os elementos da narrativa: o dois, o cruzeiro, a figueira e o tacho de ouro que parece ter dado o nome geográfico de ‘Ouro’ ao lugar do tacho.
Conversando virtualmente com minha prima é como se eu estivesse conversando nas tardes de domingo, ou quando as tarefas permitissem ouvir, os casos de minha mãe, a Fia do Velão, reproduzindo a oralidade da Fazenda Cruzeiro nas Terras de Desterro do Melo.
A prima Angela de Melo é enfática dizendo em suas mensagens que trocamos como no seguinte recorte:
“eu cresci passando perto do Cruzeiro e com medo que aquele galo cantasse e o mundo acabasse e o negócio do ouro lá, ficava longe do Cruzeiro. Esse lugar é denominado Ouro e meu pai vivia contando da ilusão que meu avô tinha sobre esse tacho de ouro. Falava que muita gente tinha visto a mãe d'água caindo nesse lugar. Tínhamos nossas fantasias com isso também à língua pequena. Mas meu pai contava que foi muita gente lá pra olhar se havia a possibilidade de ouro mas que foi completamente descartado.”(sic).
Quando se busca respostas encontra-se muito mais perguntas a serem feitas.
Por que a família carrega o sobrenome Melo? É uma referência ao lugar de origem – Desterro do Melo, a Exemplo de Assis, que trata da origem e não é sobrenome de Francisco de Assis, ou é sobrenome que carregamos como herança de “um certo português de nome José de Melo”?
O que a geologia tem a dizer sobre o dois: minerais ou pigmentação?
O que a História com seus documentos escritos e outras fontes pode elucidar sobre este contexto?
Ao pedir autorização para Angela em publicar nossas conversas sobre a oralidade da família e de Desterro do Melo ela não só permitiu, mas disse:
“E quando quiser saber alguma coisa, se eu souber,será um prazer poder dar alguma informação. Acho que você devia fazer uma crônica das assombrações da Fazenda.O que você acha?Apenas uma sugestão.” (Sic)
Fico feliz em perpetuar desta maneira, a exemplo do curso que tive com a representante do Museu da Pessoa segundo aquele certificado, a memória familiar.
Muitos casos contados e muitas cartas a escrever.
O verde esmeraldino da Mata Atlântica, o frio das altitudes provocando brumas, Cerração e Friagem: fenômenos da Serra, e o distanciamento dos portos do litoral provocando problemas da tireoide mexiam com o imaginário de quem ousasse enfrentar a Mantiqueira e seus leitos fluviais. Esmeralda e brilhantes do comendador.
Estes fatores aliados com a riqueza aurífera produziram o barroco, arte e misticismo. Todo um imaginário.
Vivi as décadas precedentes do pós-moderno ouvindo a cultura que afirmava “Passa de mil, mas não passa de ‘2’... dois mil, o fim do mundo está próximo” . Esta era a fala recorrente de minha mãe, e irmã mais velha, e sua família que viera da região de Desterro do Melo onde se lê no histórico virtual do município que “É mais conhecida esta Freguesia pelo nome de Melo do Desterro. Razão é que em 1761 para aqui veio um certo português de nome José de Melo, para cumprir pena...” ¹
Por aqueles descaminhos do ouro tudo ia além da religião, atingia-se à superstição com assombrações, cruzes, galos da madrugada, o medo do outro gerando olhares por banda de porta e janela semicerradas e gretas. Quem vem lá?
Pedro Nava nos dá bem esta marcação com sua obra em especial Baú de Ossos e Galo das Trevas.
E no caminho para o cruzeiro com o galo anunciando os pontos do coração – cardeais; figueira anunciando o tacho de ouro enterrado, ainda havia aquela inscrição na rocha mostrando a forma que a imaginação determina os olhos enxergarem um dois inscrito.
Aquele barranco do “2” parece que foi recortado. Há de se perguntar: por que é assim? Obra da erosão natural ou escavação? Aquela forma foi pigmentada por minerais que caprichosamente tomou o jeito de 2 ou alguém assinalou uma inscrição ali para marcar algo, já que a região é versada em mistérios e legendas?
Os olhos não cansam de ver, o imaginário se alimenta disto e falar sobre aquele dois parece ser um mantra, uma reza, uma referência lendária que se confunde com o real.
A Fia do Velão recorria sempre a este místico e pontuava bem os elementos da narrativa: o dois, o cruzeiro, a figueira e o tacho de ouro que parece ter dado o nome geográfico de ‘Ouro’ ao lugar do tacho.
Conversando virtualmente com minha prima é como se eu estivesse conversando nas tardes de domingo, ou quando as tarefas permitissem ouvir, os casos de minha mãe, a Fia do Velão, reproduzindo a oralidade da Fazenda Cruzeiro nas Terras de Desterro do Melo.
A prima Angela de Melo é enfática dizendo em suas mensagens que trocamos como no seguinte recorte:
“eu cresci passando perto do Cruzeiro e com medo que aquele galo cantasse e o mundo acabasse e o negócio do ouro lá, ficava longe do Cruzeiro. Esse lugar é denominado Ouro e meu pai vivia contando da ilusão que meu avô tinha sobre esse tacho de ouro. Falava que muita gente tinha visto a mãe d'água caindo nesse lugar. Tínhamos nossas fantasias com isso também à língua pequena. Mas meu pai contava que foi muita gente lá pra olhar se havia a possibilidade de ouro mas que foi completamente descartado.”(sic).
Quando se busca respostas encontra-se muito mais perguntas a serem feitas.
Por que a família carrega o sobrenome Melo? É uma referência ao lugar de origem – Desterro do Melo, a Exemplo de Assis, que trata da origem e não é sobrenome de Francisco de Assis, ou é sobrenome que carregamos como herança de “um certo português de nome José de Melo”?
O que a geologia tem a dizer sobre o dois: minerais ou pigmentação?
O que a História com seus documentos escritos e outras fontes pode elucidar sobre este contexto?
Ao pedir autorização para Angela em publicar nossas conversas sobre a oralidade da família e de Desterro do Melo ela não só permitiu, mas disse:
“E quando quiser saber alguma coisa, se eu souber,será um prazer poder dar alguma informação. Acho que você devia fazer uma crônica das assombrações da Fazenda.O que você acha?Apenas uma sugestão.” (Sic)
Fico feliz em perpetuar desta maneira, a exemplo do curso que tive com a representante do Museu da Pessoa segundo aquele certificado, a memória familiar.
Muitos casos contados e muitas cartas a escrever.
¹ https://www.desterrodomelo.mg.gov.br/pagina.php?idpag=29#:~:text=Regi%C3%A3o%20banhada%20no%20passado%20por,bandeirante%20paulista%20Jo%C3%A3o%20Siqueira%20Afonso.
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 22/07/2020.
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reservados e protegidos segundo
Lei do Direito Autoral nº 9.610,
de 19 de Fevereiro de 1998.
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