Carta aos meus medos 1.0

Saudações,

Aqui é Clara Nuvens, entrando em contato depois de muito tempo. A mensagem é a mesma da última vez: "Deixem-me em paz!". Estou cansada de vocês estarem bagunçando o meu lugar; e sinto saudades de navegar. Sinto saudades de sentar na beira da ilha e divagar cartas aos outros náufragos. Quero voltar para antes de ser levada pelo navio pirata. Saudades do vulcão mãe, que com muita luta e tormentos, gerou-me.

Chega a ser engraçado, pois, antes disso tudo, éramos amigos. Acho que pela falta de coisas com as quais eu me envolvia, tinha tempo para ouvi-los e entende-los. Desculpa ter abandonado vocês. E eu sei que jamais poderei voltar aquela ilha. E se eu voltasse, não sentiria as mesma coisas. Estou apenas confusa. Não saber se sua escolha foi a certa torna as coisas mais difíceis.

Depois que cheguei em terra firme, aconteceram tantas coisas. Vi o caos da seleção de um líder. Experimentei o desejo de quase desistir de enviar cartas. Senti-me morrer diversas vezes. Vi o ano recomeçar. Senti a fusão de duas existência ganhar vida. Senti-me agonizando. Aprendi a jogar xadrez. Adquiri responsabilidade perpetuas. Chorei e lamentei. Forcei-me a grafar. Perdi o direito de arrepender-me. E aqui, estou eu, pedindo para deixaram-me em paz e sozinha.

Não consigo acreditar que um dia resgatarei alguma das partes minhas já mortas, entretanto, não consigo negar que meu espírito quer estar aqui, registrando. Eu sinto falta de muita coisa, mas não dá para olhar para trás. Eu sinto falta das palavras que acompanhavam-me, e que deixei para trás. Sinto falta de saber o que eu estava fazendo, e de orgulho de fazer. Acho que eu nunca dei o devido valor, mas eu vou juntar o que sobrou e recomeçar.

Clara Nuvens
Enviado por Clara Nuvens em 14/07/2020
Código do texto: T7006092
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