Dos Altos das Serras da Mantiqueira, Os Descaminhos do Padrão Normal: loucura e desatinos. CARTAS AO TEMPO - ALÉM DA ESCRITA.
D. Fia, a Fia do Velão tinha muito receio da Loucura.
Ela havia estudado no internato do Educandário Baronesa Maria Rosa de Barbacena para aprender artes domésticas: bordados, tricô, crochê e costura. Uma menina adolescente deveria aprender e se preparar para o casamento. Ficar em um internato com desconhecidos deve ter sido um desafio. As rezas e novenas era uma proteção aos infortúnios. O educandário ensinava as rezas para decorar e ensinava a bordar o nome com lápis e tinteiro. Isto tinha uma função política: votar nos políticos que o pai das Fias mandasse.
A cidade era um polo para estas aprendizagens de meninas que se preparavam para a vida adulta. Barbacena, com seus ares de serras, além de educandários, também servia para instalação de casas de saúde para várias doenças: pulmonárias e mentais. A lepra também alimentava os terrores.
Quem vivia nas fazendas e interiores da região receava os problemas de saúde. A região interiorana mal contava com farmacêuticos que procurava atender em sua botica e em casa. Não adoecer era o maior ganho e os pequenos males eram tratados nas casas retiradas e distantes com emplastos de angu até cachaça para dores de dente. O boticário versado para curas de males mais complicados fazia inclusive parto visitando, com o padre e parteira, as parturientes. Às vezes a mãe e criança morria no ato. Durante a noite a Sombra da Ação atiçava o imaginário. Um vulto ou um ruído de galhos secos ou o pio de corujas era suficiente para a ASSOMBRAÇÃO.
D. Fia dizia, como era corrente, que quem lesse muito ficava doido. E aí ela citava exemplos. O “fio” de fulano enlouqueceu e andava pelo vilarejo, dia e noite, de camisolão, fantasma vivo. Só se vestira com roupas masculinas no dia em que seu pai morrera. Especula-se: era o tal rapaz efeminado? Era um tipo de vingança à cultura machista e iletrada? Ela relatava casos de parentes e conhecidos que atingira um grau tal de loucura que lhe punham escondido trancafiado em um cômodo com grades nas portas e janelas.
D. Fia narrava o caso de uma mulher que enlouquecera e em seu desatino correu para o alto da serra em meio à mata. A população foi em busca de seu paradeiro. Passaram dias até que foi encontrada apenas, em putrefação, uma mão humana. Minha mãe, a D. Fia, a Fia do Velão era sempre dramática em suas narrativas quer seja casos de assombração, pessoas locais... E deixava a imaginação de seus ouvintes completarem o caso contado. Arrematava esta história da mulher que enlouquecera alertando que a região era habitada por feras como onça pintada.
O discurso sobre a loucura sempre era usado para a prática da eugenia praticada antes da desospitalização, em todo o Brasil, dos doentes mentais. Quando trabalhei na pesquisa sobre o assunto como professor do centro universitário local deparei com casos de diversas narrativas pessoais. Havia uma mulher que passou parte da vida internada em asilo público para transtornos. Fora internada, como muda e louca, pelo seu familiar próximo. Ao ser desospitalizada ela começou a falar e narrar sua história.
Recentemente assisti o documentário de vida de D. Yayá do estado de São Paulo. Isto me fez lembrar estas narrativas contadas pela minha mãe e pelos moradores do asilo quando daquela pesquisa na instituição pública.
Era muito comum também ver pelas ruas de Barbacena pessoas com bócio, aquele papo provocado por problemas de glândulas hormonais. Lendo os relatos de viagem de SAINT-HILAIRE vi que o explorador constatou esta realidade nas Minas Gerais. Também a oralidade ouvida é de que problemas relacionados à tireoide podem ocasionar a demência.
Deixo abaixo referências sobre D. Yayá de São Paulo e aquilo que já foi escrito sobre o explorador francês.
D. Fia, a Fia do Velão tinha muito receio da Loucura.
Ela havia estudado no internato do Educandário Baronesa Maria Rosa de Barbacena para aprender artes domésticas: bordados, tricô, crochê e costura. Uma menina adolescente deveria aprender e se preparar para o casamento. Ficar em um internato com desconhecidos deve ter sido um desafio. As rezas e novenas era uma proteção aos infortúnios. O educandário ensinava as rezas para decorar e ensinava a bordar o nome com lápis e tinteiro. Isto tinha uma função política: votar nos políticos que o pai das Fias mandasse.
A cidade era um polo para estas aprendizagens de meninas que se preparavam para a vida adulta. Barbacena, com seus ares de serras, além de educandários, também servia para instalação de casas de saúde para várias doenças: pulmonárias e mentais. A lepra também alimentava os terrores.
Quem vivia nas fazendas e interiores da região receava os problemas de saúde. A região interiorana mal contava com farmacêuticos que procurava atender em sua botica e em casa. Não adoecer era o maior ganho e os pequenos males eram tratados nas casas retiradas e distantes com emplastos de angu até cachaça para dores de dente. O boticário versado para curas de males mais complicados fazia inclusive parto visitando, com o padre e parteira, as parturientes. Às vezes a mãe e criança morria no ato. Durante a noite a Sombra da Ação atiçava o imaginário. Um vulto ou um ruído de galhos secos ou o pio de corujas era suficiente para a ASSOMBRAÇÃO.
D. Fia dizia, como era corrente, que quem lesse muito ficava doido. E aí ela citava exemplos. O “fio” de fulano enlouqueceu e andava pelo vilarejo, dia e noite, de camisolão, fantasma vivo. Só se vestira com roupas masculinas no dia em que seu pai morrera. Especula-se: era o tal rapaz efeminado? Era um tipo de vingança à cultura machista e iletrada? Ela relatava casos de parentes e conhecidos que atingira um grau tal de loucura que lhe punham escondido trancafiado em um cômodo com grades nas portas e janelas.
D. Fia narrava o caso de uma mulher que enlouquecera e em seu desatino correu para o alto da serra em meio à mata. A população foi em busca de seu paradeiro. Passaram dias até que foi encontrada apenas, em putrefação, uma mão humana. Minha mãe, a D. Fia, a Fia do Velão era sempre dramática em suas narrativas quer seja casos de assombração, pessoas locais... E deixava a imaginação de seus ouvintes completarem o caso contado. Arrematava esta história da mulher que enlouquecera alertando que a região era habitada por feras como onça pintada.
O discurso sobre a loucura sempre era usado para a prática da eugenia praticada antes da desospitalização, em todo o Brasil, dos doentes mentais. Quando trabalhei na pesquisa sobre o assunto como professor do centro universitário local deparei com casos de diversas narrativas pessoais. Havia uma mulher que passou parte da vida internada em asilo público para transtornos. Fora internada, como muda e louca, pelo seu familiar próximo. Ao ser desospitalizada ela começou a falar e narrar sua história.
Recentemente assisti o documentário de vida de D. Yayá do estado de São Paulo. Isto me fez lembrar estas narrativas contadas pela minha mãe e pelos moradores do asilo quando daquela pesquisa na instituição pública.
Era muito comum também ver pelas ruas de Barbacena pessoas com bócio, aquele papo provocado por problemas de glândulas hormonais. Lendo os relatos de viagem de SAINT-HILAIRE vi que o explorador constatou esta realidade nas Minas Gerais. Também a oralidade ouvida é de que problemas relacionados à tireoide podem ocasionar a demência.
Deixo abaixo referências sobre D. Yayá de São Paulo e aquilo que já foi escrito sobre o explorador francês.
Dona Yayá - Doc Mogi News - Parte I
https://www.youtube.com/watch?v=zdQRdPDwXB8
Dona Yayá - Doc Mogi News - Parte II
https://www.youtube.com/watch?v=VQcfEtI-v6o
Dona Yayá - Doc Mogi News - Parte III
https://www.youtube.com/watch?v=kh0fs93qCoo
O bócio nas terras das Minas Gerais percebido por SAINT-HILAIRE:
1) file:///C:/Users/note/Downloads/26203-Texto%20do%20artigo%20SEM%20identifica%C3%A7%C3%A3o%20da%20autoria-55429-1-10-20151016.pdf
2) http://repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/278772/1/Scarato_LucianeCrisitina_M.pdf
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 11/07/2020.
Direitos do texto e foto
reservados e protegidos segundo
Lei do Direito Autoral nº 9.610,
de 19 de Fevereiro de 1998.
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