Carta de desesperança

Meu caro quase ex amor,

Viver sem você parecia um tipo de heresia que eu não era capaz de supor que algum dia seria possível.

Contudo, esse dia chegou.

A hipótese de viver sem você não passou pela minha cabeça, mas pensei que seria mais fácil do que tem sido. Juro que imaginei que bastaria ler um desses livros de autoajuda que nos ensina como ser feliz sozinha e que o lançamento da minha banda favorita varreria qualquer vestígio de tristeza do meu coração. Triste engano! Nem mesmo a ausência de notificações no meu celular deixaria de ter significado. O pior que tem. E muita. E doeu.

A sua ausência é quase palpável no meu apartamento. O silencio doeu. Me fez lembrar que, antes de te conhecer, tudo estava tão cinza... como está agora. Eu posso ter um arco-íris na minha vida, mas ele só apareceu após eu conhecer você e sua presença ter feito a chuva cessar dentro de mim.

Você era tudo aquilo que eu sempre almejei. O amor mais que perfeito. A pessoa que via o melhor em mim, mesmo nos piores dias. Você era o meu porto seguro. O meu mundo.

Mas você foi embora.

Sem nem dizer adeus – mas eu duvido que alguma despedida diminuísse a dor aqui dentro.

Nos primeiros dias, eu fingi que não doeu, que eu estava ótima.

Depois eu consegui forçar um sorriso na frente dos outros, mesmo com o choro entalado na garganta. Eu me fiz entender que eu podia sorrir mesmo sem você do meu lado – eu era capaz de fazer isso sozinha. Eu me fiz entender que por mais que você tenha dado sentido a minha vida, isso não te tornava o sentido dela – e obrigada por ter me ajudado a entender.

Pois é, eu ainda estou aprendendo a viver sem você. A passos lentos, uns dias melhores que outros, mas estou ficando bem.

No fundo eu sabia que você não era tão confiável assim, que um dia iria embora.

Eu sabia, ainda que inconscientemente, que nossa relação não seria para valer, mesmo que valesse muito a pena.

É isso.

E tudo bem.

Estou feliz pelo que vivemos.

Termino essa carta como começamos nossa história: com reticências...

Adeus.

M.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 09/07/2020
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