Às Fias e às Donas:
Cartas ao Tempo – Narrativas Pessoal e Familiar
Provenho de uma família materna que sempre gostou de Casos à Beira de um Fogão à Lenha. Bem mais que chamas iluminando e aquecendo eram referências às labaredas de comunidades primitivas.
Minha mãe contava casos de sua família e de outras de sua cidade mineira, Desterro do Mello. Município que surgiu de um desterrado luso que, banido, viera tentar a fortuna nos veios de riachos do interior das minas auríferas.
Imaginário marcado pelo desterro, banimento, e ciclo minerador o lugarejo tomou o nome deste minerador, Mello, e o, católicos, a proteção cristã da “Família Sagrada Desterrada” para o Egito segundo a Bíblia.
Os casos contados em rodas do fogão versavam sobre “a sombra e ação” dos que viviam e dos que morreram - Assobração. Eram memórias acesas, cultura oral, quase nunca registrada pela escrita, e repassadas.
Minha mãe, sempre narradora, relatava casos de meu pai, sempre taciturno e pouco falante.
Ela extremamente clara deixava à mostra suas origens europeias. Meu avô, olhos azuis, dizia ela que era alemão, e muito branco tinha a alcunha de Velão. Ela era a “Fia do Velão”. Fia era o redundante para aquela comunidade machista, patriarcal e misógina. As mulheres perdiam os substantivos próprios e passavam a se chamadas de “Fia”. E assim eram muitas as “fias” distinguidas apenas pelos nomes masculinos que lhes deram vida ou que com elas se casaram. Minha mãe Maria era a Fia do Velão, por ser a filha do “Juiz de Paz” da comunidade e sua mãe por ser a mulher do distinto era a Dona. Se ele era o Augusto, ela a Dona Augusta.
Augusta é outro nome que não se sabe ao certo se próprio ou alcunha que beirava a título. O feminino se nomeava por “Fia de” ou Dona Augusta. Deste modo as mulheres perdiam suas próprias importâncias e suas personalidades confundiam-se com as da masculinidade. Todas eram “Fias de” ou Augustas. E havia aquelas que nem se nomeavam por estarem à margem deste Descaminho Aurífero.
A oralidade da voz de minha mãe também contava a história de meu pai.
Escrevo ao tempo para lhe dar voz e correção aos (pre)Conceitos. É muita pretensão, eu sei. Mas é sempre tempo de se corrigir.
Cartas ao Tempo – Narrativas Pessoal e Familiar
Provenho de uma família materna que sempre gostou de Casos à Beira de um Fogão à Lenha. Bem mais que chamas iluminando e aquecendo eram referências às labaredas de comunidades primitivas.
Minha mãe contava casos de sua família e de outras de sua cidade mineira, Desterro do Mello. Município que surgiu de um desterrado luso que, banido, viera tentar a fortuna nos veios de riachos do interior das minas auríferas.
Imaginário marcado pelo desterro, banimento, e ciclo minerador o lugarejo tomou o nome deste minerador, Mello, e o, católicos, a proteção cristã da “Família Sagrada Desterrada” para o Egito segundo a Bíblia.
Os casos contados em rodas do fogão versavam sobre “a sombra e ação” dos que viviam e dos que morreram - Assobração. Eram memórias acesas, cultura oral, quase nunca registrada pela escrita, e repassadas.
Minha mãe, sempre narradora, relatava casos de meu pai, sempre taciturno e pouco falante.
Ela extremamente clara deixava à mostra suas origens europeias. Meu avô, olhos azuis, dizia ela que era alemão, e muito branco tinha a alcunha de Velão. Ela era a “Fia do Velão”. Fia era o redundante para aquela comunidade machista, patriarcal e misógina. As mulheres perdiam os substantivos próprios e passavam a se chamadas de “Fia”. E assim eram muitas as “fias” distinguidas apenas pelos nomes masculinos que lhes deram vida ou que com elas se casaram. Minha mãe Maria era a Fia do Velão, por ser a filha do “Juiz de Paz” da comunidade e sua mãe por ser a mulher do distinto era a Dona. Se ele era o Augusto, ela a Dona Augusta.
Augusta é outro nome que não se sabe ao certo se próprio ou alcunha que beirava a título. O feminino se nomeava por “Fia de” ou Dona Augusta. Deste modo as mulheres perdiam suas próprias importâncias e suas personalidades confundiam-se com as da masculinidade. Todas eram “Fias de” ou Augustas. E havia aquelas que nem se nomeavam por estarem à margem deste Descaminho Aurífero.
A oralidade da voz de minha mãe também contava a história de meu pai.
Escrevo ao tempo para lhe dar voz e correção aos (pre)Conceitos. É muita pretensão, eu sei. Mas é sempre tempo de se corrigir.
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 05/07/2020.
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Lei do Direito Autoral nº 9.610,
de 19 de Fevereiro de 1998.
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