CARTA  AO DESAMOR...
 
 
 
Eu bem percebo quando te calas. Em teu pensamento sei que não habito...
Nele estou sempre ausente... Penso, tento chegar, mas não resisto...
Que contraste! Amor e desprezo!?
Não! Não ouso ir tão longe, só desamor!
 
Atravessei a vida em tua busca,
Pensando ter te encontrado de forma incomum,
Forma que tu não aceita, e nem crê que exista...
Nem no lirismo e sonhos de poetas!
 
Não te culpo. Também não acreditava.
Só que o destino pensando diferente,
Abriu-me este arcano, e sem que  eu visse
Perdi-me  na descoberta!
 
E, foi assim, de dor em dor, de amargura em amargura,
Onde a felicidade às vezes pontuava, que até vi uma vida futura!
Mas, depois de muito sofrimento implorei aos céus um lenitivo,
E, tu, com a frieza da incredulidade, por fim, de ti me afastas...
 
Convenceu-me de  fato... Tens razão...
É como dizem os sábios,
Nada dura para sempre,
E, toda dor tem seu momento do basta!
 
Digo-te, porém,  não sou como as ondas do mar
Que espocam nas areias da mesma praia há milênios,
E  insiste nisso, convictas de seu amor pela Terra,
Num sagrado ritual  sem descanso! Não tenho esta paciência!
 
Às vezes sinto teus olhos voando para o infinito e vejo  em tua boca
Que existe, há muito, um beijo lacrado  de esperança louca,
E que jamais vou conseguir abri-lo...
Talvez, por isso, finalmente convenci-me de tua indiferença!
 
Não vale a pena, dizes. Solto, então, as amarras da verdade,
E me lanço ao mar da solidão...  Perdoa, e por mim, apenas ore!
Quem sabe, um dia, meu veleiro, com a carga da saudade,
Retorne, e no teu porto inda ancore!
 
Nelson de Medeiros
 
 
Nelson de Medeiros
Enviado por Nelson de Medeiros em 20/06/2020
Reeditado em 20/06/2020
Código do texto: T6982687
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.