CARTA AOS PAIS ENLUTADOS
Barduíno perdera sua filha havia poucos dias. Fora levada às pressas para o Pronto Atendimento na cidade vizinha. Mas não havia leito para ela. Foi medicada e ali mesmo apertou as mãos da mãe e do pai e se despediu deles. Nina estava com 14 anos e era portadora de necessidades especiais.
Sem testes e nem confirmação de coronavírus a família voltou para casa. Um pouco menor.
Barduíno sentiu que não suportaria viver sem Nina. Sua filhinha muito apegada a ele.
Não se sabe se foi a dor da perda que baixou sua imunidade. Ou se estava contaminado. Ou se contaminou a filha. As dúvidas de Barduíno ficavam sem esclarecimentos. E o sufocavam. Não deu tempo de colocarem o respirador pulmonar.
Ele não acompanhou o enterro de sua Nina. E não ficou para chorar seu luto. Morreu aos 54 anos.
Mírian Cerqueira Leite