O ENCONTRO...
Não vamos aqui falar de detalhes sobre a minha saída de casa e a minha chegada ao local. Seria estupidez relatar tantos momentos corriqueiros que nos permitem o trânsito e a tensão paulistana.
Digo que, simplesmente estava Eu no local marcado com aproximadamente dez minutos de antecedência.
Digo também que não me continha em meio a tantas conturbadas sensações, que se misturavam entre si; ora um profundo mal estar, ora uma contagiante alegria, de poder ser útil. Tudo, em uma dimensão que seria impossível relatar.
Pedi uma bebida, algo que me situasse no local. Estava mais parecendo um tele-transportado; corpo aqui, alma ali!
Ao sorver o primeiro gole, percebi a uma distância de uns vinte metros a sua silhueta dela se aproximando, contrastando com a pouca luz da esquina. Linda silhueta, denunciando o seu jeito meigo e sensual de andar. Parecia que tudo aquilo tinha uma única razão; me impressionar.
Mas não; era o seu jeito simples e envolvente de portar. A beleza ali, havia se perdido e também se encantado tal qual os homens que se petrificavam ao olhar profundamente nos olhos da “Medusa”. A beleza havia sido ingrata com tantas outras, pois depositara naquela mulher, nada mais nada menos do que classe e deslumbre em demasiado.
Aproximou-se, e com um semblante triste e olhos profundamente cansados e avermelhados, denunciou um descontentamento fora do comum. Fiquei contagiado com a sua expressão e levantei para ajeitar-lhe o lugar ao meu lado, coisa que fiz conscientemente.
Não posso negar que, ali estava Eu como um futuro confidente, porém, na condição de homem, profundo e fiel admirador daquela espécie feminina. Estava ali também na condição de jogador.
_Quero te contar uma coisa – disse ela – e não podia esperar mais.
_Fale, não perca tempo em se abrir. Sabe que pode contar comigo.
_É, eu sei, e por isso estou aqui.
E continuou...
_Já faz muito tempo que escondo os meus reais sentimentos sobre a vida. Quem me enxerga de fora, talvez vislumbre uma mulher confiante e resolvida, mas devo te dizer que não é assim. Não sou dessa forma.
_Mas, você parece sempre tão segura. Tudo que faz, tudo que diz. E a sua vida?
_É isso mesmo. E a minha vida?
Não sabia o que dizer, queria entender aonde chegaria tal conversa.
Senti a sua profunda respiração perto de mim, misturada ao seu perfume. Ela olhou-me cabisbaixa e prosseguiu.
_O fato é que estou confusa e preciso de você.
_Claro, conte comigo, mas, aconteceu algo em sua vida? É com a sua família, com o seu marido?
Nesse exato momento, ela segurou em minhas mãos e me fitou com aqueles ternos olhos.
Confesso que, se não fosse toda a confiança que ela havia depositado em nossa amizade, apertaria as sua mãos ainda mais e me aproximaria ao máximo para beijá-la.
Devo dizer também, que sempre fui um tolo nos negócios do coração. Talvez, e mesmo que tivesse tal chance, não fosse tão ousado assim, porém, o leitor irá perceber, que o inevitável sempre acontece.
E ela continuou...
_Sabe aquela sensação de se sentir bem ao lado de outra pessoa e ficar totalmente confusa com o que isso pode acarretar?
_Sei, bem, acho que sei.
Na verdade Eu mesmo estava confuso com tal situação.
_Sabe? Já sentiu isso antes?
De repente, fui tomado pela maior das coragens e disse que tal sensação já era antiga companheira do meu coração; dona talvez.
_Ah, que bom; que bom que sente algo por alguém. Fico feliz por você e por essa pessoa.
Nesse momento, nem sei bem se interpretei corretamente a sua atitude, mas senti ali uma punhalada doida em seu peito. Achei mesmo que ela parecia se preocupar. Foi então que assumi o papel de confidente e pedi para que continuasse a relatar tudo, sem pausas; e sem perder a oportunidade de segurar-lhes as mãos.
A noite estava linda, e um pouco fria. A bebida que Eu havia pedido para acalentar os meus anseios, teve direito a uma outra rodada, e mais um dose para ela também.
Sentia-me mais confiante, pois algo parecia conspirar ao meu favor...