CASO ANA LIDIA

O ano, 1973.. Brasília era um lugar pequeno, diferente do que é hoje, centro das atenções do país que lhe viu nascer, crescer em tamanho e número de habitantes tornando - se, mais tarde, a 'capital do Brasil'. A tranquilidade, vista dia e noite, atraía gente de todas as partes querendo, por vaidade, morar na 'cidade planejada'. Mil e um motivos para seguir pelo bom caminho.

Numa manhã ensolarada de verão, a menina Ana Lidia (07 anos), desce do carro da família acompanhada, certamente, de algum adulto, indo em direção á entrada da escola. Hora de grande movimento nas proximidades do internato. A jovenzinha foi, nesse momento, tomada pela mão. De quem? Não se sabe. O jardineiro que podava uma roseira, bem perto do pátio, vê homem de meia idade, loiro e de voz mansa, levando a garota. '- Parece que já se conhecem', pensou consigo mesmo. Achou estranho mas preferiu não intervir na relação aluna - familiar (o que parecia, até então) sendo ele, apenas, um simples empregado.

Passadas algumas horas, professoras deram falta da aluna. Ligaram para os pais que não tinham palavras para explicar o que podia ter acontecido com Ana Lidia, julgando ser aquilo uma brincadeira de mau gosto. Mas, seguiram as orientações dos docentes e foram, sem perca de tempo, para a escola que já se encontrava pavorosa. Telefonemas, perguntas.. A Polícia, tão logo, foi acionada e buscas começaram em volta da escola, rua e todo quarteirão. Enorme área verde (árvores de sombra e folhagem) dava a entender que algum 'carreiro' serviu de acesso para o malfeitor atrair a vítima. Esse pequeno bosque tomava a margem direita da escola. Seria a versão mais aceita para o desaparecimento da mesma.

As pessoas interrogadas não haviam visto nem ouvido Ana Lídia naquela terça - feira. Alguém, voluntariamente, tenta dizer o que ocorrera, para desespero dos pais. O cuidador das flores que assistou, desconfiado, o rapto da menina. Rapto que parecia, apenas, um convite para passear. Dito isso, a Guarda Municipal começa a cogitar tentativa de sequestro. No entanto, não houve pedido de resgate, coisa ainda desconhecida naquela época. O pai de Ana Lidia possuia alguns desafetos políticos. Gente poderosa. Talvez, algum 'não amigo' seu, quissesse atormentá - lo. Por certo, conseguiu, tocando na sua caçulinha, alegria da casa.

Anoitece.. Nenhuma notícia do paradeiro da menina. A equipe de policiais, seguida de peritos e delegado suspendem, temporariamente, as buscas pela região do cerrado. Qual procurar 'agulha no palheiro'.. Olhavam mais de uma vez cada palmo de terra. Nada foi em vão. No dia seguinte, após 22 horas do início das investigações, Ana Lídia é encontrada sem vida no terreno baudio ao lado da escola. Nua, com mechas do cabelo cortados, de forma reparável. De acordo exame pericial, ela foi asfixiada com sacola plástica, tedo ficado sem ar em poucos minutos. O estupro também era evidente. Objetos pessoais da criança espalhados ao redor do corpo. Folhas arrancadas uma por uma do caderno que Ana trazia na mochilinha. Os pais, inconformados, entraram em crise de choro. A mãe se desmanchava em lágrimas. Um quadro desolador!

O cenário era de consternação. As autoridades locais se mobilizaram para colher provas, relatos, pistas.. Daquela quarta - feira em diante, pais de alunos começaram a ficar cheios de medo, reforçando, inda mais, os cuidados com os filhos menores. O encanto se quebrava. A harmonia, de toda uma população, caia por terra. As pessoas tinham receio que o indivíduo pudesse atacar novamente.

O irmão da menina - playboy usuário de drogas - não compareceu no velório, nem ao menos para um último adeus. Isso levantou suspeitas. Ele mechia com gente do tráfico de entorpecentes. Esteve na mira da Justiça como um dos principais investigados pois, segundo consta, contou para terceiros sobre a 'vida íntima' da família especialmente o horário de aula da criança (AL). Frágeis acusações. Não haviam indícios de autoria e materialidade (dispositivo legal). Tanto este como aquele se viram desobrigados a responder criminalmente pelo feito.

45 longos anos se passaram, sem que ninguém (inclusive dentre as pessoas investigadas), fosse/ssem condenadas pelo presente assassinato. De certa feita, prescreveu, sendo ainda lembrado pelo delegado da época (hoje idoso e aposentado), como uma passagem triste do Direito brasileiro. Um vazio que não se completa.. Caso envolvendo mistério, intrigas e controvércias. Uma história que o tempo não apaga, mas deixa lembranças, embora tristes, daquele 'setembro obscuro'. Era, o primeiro de muitos, dos atos violentos que viriam acompanhar o crescimento de Brasília. O sossêgo da bela cidade teria sido, para sempre, deturpado.

Só nos resta lamentar a perca de menina tão doce quão foi Ana Lidia.

DESCANSE EM PAZ

Anjinho de candura

Thiago Valeriano Braga

{O túmulo da menina, no Campo da Esperança, é um dos sepulcros mais visitados no dia de finados. Coroa de flores, mensagens e lembrancinhas são depositadas junto do seu retrato}.

Thi Braga
Enviado por Thi Braga em 17/05/2020
Reeditado em 20/05/2020
Código do texto: T6950191
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