Minha Pequena Autobiografia .......*

MINHA PEQUENA AUTOBIOGRAFIA

Em 1967 nasci, aos 16 dias do mês de agosto às 10:30h na cidade de Taubaté. Minha mãe foi dar à luz à mim devido ao médico obstetra que a acompanhava e creio , acompanhou também os nascimentos de meus quatro irmãos e por isso não me considero taubateana mas sim joseense. No mesmo ano meu pai e minha mãe perderam tudo na lavoura da Fazenda do Ronda na famosa enchente que arrasou o Vale do Paraíba , então literalmente creio que nasci observando os desafios de se recomeçar , entregar maquinários, terras, e constatar que a casa onde eu vivia com meus irmãos se perdera também. Com isso tivemos que nos mudar para outros locais segundo relato dos meus pais.

Me lembro de que morei em Querência do Norte em Mato Grosso, Loanda no Paraná, e voltamos para SJCampos quando iria completar meus cinco anos de idade. Nesse capítulo me pergunto o que é ser pobre? Afinal , meu pai de dono de fazenda passou a ser funcionário em uma outra fazenda a convite de seu então amigo , Lauro . Como meu pai era muito versátil, inteligente, auto didata ( obrigada, papai, por tudo ), ele conseguiu atingir as metas da safra de 1972 a 1976. No intervalo desse espaço de anos , me lembro de vê-lo indo para Goiás trabalhar em outra fazenda e atingir outra meta de colheita , não me recordo o nome desta. Durante este período minha mãe, filha de imigrantes japoneses, que havia sido alfabetizada em japonês na cidade de Itapecerica da Serra, filha mais velha de meus avós, como também fora interna e estudou na Escola Vergueiro em São Paulo, se formou em corte e costura. Com essa bagagem ela pôde costurar muito na fazenda de meus padrinhos e plantava muita verdura que vendia para quem precisava , até pouco tempo atrás tinha retalhos de tecidos que ela havia guardado. Minha mãe também aprendeu a dirigir cedo, era uma vanguardista para quem nascera em 1938, e como toda filha mais velha teve que dar exemplo aos irmãos mais novos, carregou sacos de batata nas costas , ajudou meus avós na criação dos irmãos. Eu me lembro de vê-la desenhar também e apesar de ser mais alta que eu e mais forte, tinha muita delicadeza nas mãos, uma perfeição para fazer os moldes e calcular tudo na costura francesa. Meu pai do mesmo modo conseguia mapear todos os locais em que trabalhou , projeções , análises geográficas, contas, por fim acabou ensinando muita gente no seu trabalho na fazenda do amigo Lauro. Nesse mesmo período, mamãe se matriculou num curso de cabeleireira no Instinto Virgínia na Rua Antonio Saes como também fez um curso por correspondência para se manter informada ou seja, concluir grau em estudos.

Como meu pai tinha o objetivo de se emancipar aprendeu com seu amigo, Yoshio K. a trabalhar com plantas ornamentais, o então Sr Ivao de agricultor passou a trabalhar como vendedor e comerciante. Por volta de 1977, começou com a empresa da qual tomei parte quando me tornei adulta. Uma empresa voltada ao ramo de comércio de plantas e paisagismo.

Mas vamos lá, tive que escrever tudo isso, para perceber que sou de certo modo , um espelho do que vivi com os exemplos paternos. Eu quase morri quando tinha 2 anos de idade tomando um copinho de querosene, fui coberta de mosquitos em Mato Grosso em 5 minutos que me esqueceram na varanda , também quase morri afogada porque aprendi a nadar muito bem na Escola Municipal Profª Maria de Melo e não imaginava o que era uma corrente fria no mar. Eu me lembro que no dia 31 de dezembro de 1976, num domingo, nos mudamos para o Parque Industrial e para mim foi frustrante mais uma outra adaptação. Sair de uma fazenda e ir para um bairro totalmente diferente, um novo habitat digamos. Na fazenda eu pulava estrela, ia sozinha para a escola , moldava meus brinquedos , brincava e andava muito, foi lá que aprendi a andar de bicicleta, acho que era uma boa aluna, mas o segundo ano para mim foi aquele em que chorei ao ver minha professora de matemática gritar comigo na lousa, me debrucei sobre a carteira e me frustrei. Desde essa época tomei horror por Matemática. Só fui começar a gostar mais tarde , creio que depois dos 20 anos quando tive que cursar Administração de Empresas na Unitau e havia as disciplinas de Matemática Financeira, Economia, Estatística, Contabilidade, ... entrei no curso achando que era algo mais relacionado à escrita e no final tive que aprender a fazer muitos cálculos. Eu já havia concluído o segundo grau e me tornara professora com o curso de Magistério, hoje Formação de Docentes. Mas para dizer a verdade, creio que não tinha preparo emocional, o famoso QE, Quociente de Inteligência Emocional para dar aulas num container para 25 crianças num local totalmente precário, ver crianças indo para o pré para apenas para se alimentar, após passar em 11º lugar num concurso da prefeitura. Trabalhei por 6 meses pela prefeitura e desisti, antes havia feito a ETEP seguindo orientações , ou seja, me sentindo obrigada a fazer algo que daria em alguma versão minha de profissão.

Em 1987 comecei a trabalhar no Bamerindus e fui realizar tarefas como escriturária no setor de Cobranças. Foi um aprendizado imenso, substituí minha chefe em uma licença maternidade e férias posteriormente. Tudo era manual, não havia internet. Me senti muito cobrada neste serviço, sem meus colegas perceberem tive uma crise de pânico, dureza, creio que muita gente já passou por esses perrengues em seus primeiros ofícios, mas fui educada no espírito japonês (a famosa palavra vencer ou superar), vivendo numa cultura onde meu pai estava sempre cantando, era tenor da Colônia Japonesa. De 1987 a 1989 trabalhei e adquiri muita experiência no banco. Mas desde o Magistério eu procurava a aprender sozinha inglês e de que forma, gravando fitas de músicas e traduzindo-as com as letras que pegava na Escola Fisk então localizada na Avenida Dr Nelson D´Ávila. Pegava as letras e cantava sozinha no meu quarto. Sempre gostei de cantar, meu pai me incentivou. Então... Fiz 3 semestres básicos e acabei saindo porque não achava difícil , só tirava nota 100 e também não era lá barato, ter de ver meus pais pagando o curso para mim, não me sentia confortável. Ah , também devo muito aos meus pais , especialmente minha mãe por ter me colocado numa escola de datilografia na Escola Remington da Av. Dr João Guilhermino (hoje digito muito rápido no notebook por isso), como também freqüentei os kaikans japoneses, uma espécie de Centro Cultural da então colônia Japonesa e com isso estudei nihongô (japonês), mas saí do curso porque eu acabava falando mais inglês com o professor do que português.

Em 1991 comecei a trabalhar com meus pais na empresa que eles haviam erguido em 1977. Em fevereiro deste mesmo ano meu irmão mais velho , D., partira para o Japão a trabalho devido à famosa crise , depois minha irmã S. também logo após se casar com meu cunhado, e meu irmão E. que também havia se casado com minha cunhada e Ed... estudando Engenharia Mecânica em Florianópolis. Qual era o cenário? O que eu podia fazer? Estava trabalhando na prefeitura como Professora Nível I, mas assistir meus pais sem apoio e também tendo de pagar a faculdade ... Tomei coragem e fui abraçá-los dessa forma. Este foi o maior desafio. Me casei em 1995 e dei à luz ao meu primeiro filho. Tive uma depressão pós parto muito séria, tive que aceitar um tratamento. Tive uma sogra e sogro maravilhosos que me deram apoio e me compreenderam nas minhas angústias. Aí era um outro capítulo, ter de ser mãe, administradora. Como eu conseguiria conciliar tudo isso? Tive que colocar meu filho num berçário para poder trabalhar, mas olhe ... nunca foi esse o meu sonho. Sabe qual era meu sonho mesmo? Ser dona de casa (risos) , sim, na contramão da saída das mulheres ao mercado de trabalho eu queria mesmo era ser dona de casa. Sempre gostei de ficar num espaço em paz, meu , focada, analítica, creio que sou, acho que sou , será que sou? Sim, eu sou. Fui vendedora da Natura enquanto meu filho era bebê. Infelizmente tive que me divorciar. Não vou tocar nesse assunto pois meu filho sofreu deveras demais. Não vale a pena. Quero ser positiva. Em 1997 após cursar um semestre no ICBEU - Instituto Cultura Brasil Estados Unidos de SJCampos e escutar da professora que podia com certeza começar a lecionar, parti para dar aulas particulares de inglês, trabalhei numa escola também lecionando para adolescentes e de 1999 a 2001 fui professora de inglês para duas consultorias, uma delas que prestava serviços à Embraer, meu cargo era de consultora ... até hoje penso, o que é realmente isso, na realidade é ser professora mesmo mas tendo que encaminhar seus alunos na profissão que exercem e projetando as metas da Empresa nomeada para tais fins da qual também fui coordenadora e aprendi muito com minha colega D.

Meu objetivo com essa pequena autobiografia é de que meus filhos possam ter um relato de mim por eu mesma, pois numa das conversas que tive pelo whatsapp com L., ele me indagou no que eu trabalhei, qual foi minha formação, qual era a história que tinha a contar sobre minha vida e família? Então está aí ... E talvez de repente sirva de exemplo aos jovens de sua geração como também à minha filha caçula. Eu sempre pedi para que meu pai transcrevesse suas experiências num diário, mas ele não teve tempo com tanto trabalho a fazer até os últimos dias em que pôde trabalhar. Eu me lembro na época em que já estava morando aqui , dele montando o seu corcel II, pois eu me recusei a liberar verbas ( morrendo de rir agora) praticamente sozinho para poder sair para cantar. Eu fiquei pasma ao constatar a magnitude da sua persistência. Ninguém o segurava em casa, era muito dinâmico e tinha uma facilidade imensa de se comunicar com as pessoas. Tenho muitas, mas muitas saudades dos meus pais. Deixei minha vida de SJCampos, uma cidade grande comparada à MCRondon para realizar meu sonho então na época de ser dona de casa ( risos) depois de conceber minha filha caçula. Como foi boa essa transição. Durante esse tempo aprendi muito com meu marido , J., como é importante termos uma posição política. Mas também não quero falar disso pois já tive problemas demais e vivo diariamente em temas e debates dessa conjuntura que não vem ao caso agora. Posso dizer o que , estou trabalhando, conheci meu marido e o tenho como o meu melhor companheiro, trocamos muitas idéias, e estamos juntos por termos muitas afinidades em pensamentos. Sou muito inquieta e creio que por me cobrar acabo cobrando algo que deveria estar cobrando a mim mesma.

Eu preciso ser mais complacente comigo mesma. Desacelerar, mas ainda não consegui, meu pensamento não pára. Estou aqui insone sentindo com essa pandemia em que vivemos que tenho que produzir algo. Eu não sei o dia de amanhã. Eu não tenho o controle de tudo, eu não sou Deus, então, meu filho L., minha filha A.. Deixo esta carta à vocês com todo meu amor. Eu quero deixar algo escrito como mãe para que vocês possam permanecer juntos de alguma forma. É meu sonho , rezo para para que Deus me dê muitos anos para viver, pois quero ser avó um dia. Não sei se terei essa chance. Mas espero que sim.

Deixo agora as próximas linhas para que possam dar continuidade ao meu relato. OBS, isto não é uma cobrança. É um pedido para um futuro láaaaa na frente. Não se sintam pressionados. Sintam-se amados antes de tudo.

Com muito amor da mãe de vocês.

Porto Mendes , 17 de maio de 2020. 3:58am.

CARMEN YOSHIE
Enviado por CARMEN YOSHIE em 17/05/2020
Reeditado em 01/06/2020
Código do texto: T6949631
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