CARTA A ESTE INADMIRÁVEL MUNDO NOVO
Amores e afetos ficaram no vazio das vidas. Vidas que se foram sem despedidas. Sem notícias de antes. Nem de depois.
Medo e indiferença. Afeto negado. Coragem imperativa.
Aos profissionais da saúde as palavras de ordem: concentração e rapidez. Nas conversas enviesadas o murmúrio da dor é a pauta da vez.
O coração pede ar. O mesmo ar que aos pulmões não chega. Os olhos choram. As mãos se aninham. Uma na outra. Num único aperto permitido.
O frio, que nenhum cobertor aquece, chega nos braços e pernas. Estendidos em leitos de medo e incertezas.
Máscaras cobrem as curvas dos lábios tristes. Não protegem da dor. Nem do medo que os olhos vêem.
O antagonista reina impune. Desconhecidamente impune.
Na roleta russa. Ninguém sabe. E a tensão sedada e intubada. Sufoca e mata.
O opositor que não se vê. Lidera um mundo novo.
Atropela vidas. Isola mães e filhos. Fecha portas. De escolas. De comércios. De velórios.
Abre e escancara o início do fim. Nas perdas. Nas partidas. Das vidas que se foram. Sem despedidas.
Mírian Cerqueira Leite