CARTA DE ANTONIO GRAMSCI, DO CÁRCERE FASCISTA DE MILÃO, À SUA MÃE, EM 10 DE MAIO DE 1928.
Querida mamãe, não queria repetir tudo o que já escrevi muitas vezes para tranquiliza-la sobre as minhas condições físicas e morais.
Para ficar realmente tranquilo, gostaria que não se assustasse ou se perturbasse muito, seja qual for a condenação que me deem.
Que compreendesse bem, até mesmo com o sentimento, que sou um preso político e serei um condenado político, que não tenho e nem terei do que me envergonhar nesta situação.
Que, no fundo, eu mesmo quis a prisão e a condenação, de certo modo, porque nunca quis mudar as minhas opiniões, pelas quais estaria disposto a dar a vida e não só a ficar na prisão.
Que, por isso, só posso estar tranquilo e satisfeito comigo mesmo.
Cara mamãe, gostaria de abraça-la bem apertado para que sentisse quanto lhe quero bem e como queria consolá-la por este sofrimento que lhe dei: mas não podia agir de outra maneira.
A vida é assim, muito dura, e os filhos devem às vezes trazer grandes sofrimentos para suas mães, se querem conservar sua honra e a dignidade de homens.
Abraço-te com muita ternura.
Nino