CARTA A FRASSINO MACHADO (II)
Prezado Frassino Machado:
Apenas hoje, 8.5.20, tomei conhecimento de sua Missiva a Diógenes de 10.1.15, onde o prezado amigo opina sobre uma preferência minha: “A prática da escansão torna a Poesia mais dinâmica, e, ainda mais, se lida em voz alta.”
Prezado Amigo Frassino, antes de tudo, praz-me informá-lo que sempre fui avesso contra a tal da Semana da Arte Moderna, que aconteceu em São Paulo, em 1922. Jamais busquei informações a respeito da mal fadada iniciativa, a não ser recentemente. Pois bem, fiquei alegre por saber que a dita cuja não foi aquele sucesso que erroneamente pensava que havia sido, muito pelo contrário; foi apupada, rechaçada. Atentava contra o rigor da forma, na Poesia, especialmente a parnasiana e na Pintura. Ora, não foi um de seus propositores, que opinou que o soneto é a obra-prima das formas literárias?
Todavia,que efeito depreciativo poderia ter causado estapafúrdias ideias na mente de pessoas fracas, imaturas, desprovidas de formação e de bons princípios? Sei lá! Fato é que tempos depois começaram a surgir homens que não homens, mulheres que não mulheres, governantes que não são governantes mas aproveitadores, e basta!
Mas fato é que o soneto não morreu, nem mesmo o soneto parnasiano, ou talvez sim, deixando em seu lugar, seu filho, o soneto neoparnasiano, igualmente formal e com conteúdo melhor. Mas quem sou eu para escrever sobre Literatura? Escrevo sonetos. Quanto ao texto de Antonio Ramos Rosa, muito bonito. Eu só haveria de sugerir que o primeiro verso fosse: “ Escuto na palavra escrita a festa do silêncio”, uma vez que a vocação da Poesia, de modo geral, é ser lida em voz alta.
Aprecio a Poesia de
Miguel Torga
Mágoa
Medas de trigo ao sol - Agosto,
Tudo o calor do Sonho amadurece;
Só a verdade amargura do meu rosto
Permanece!
Até me lembro que não sou da vida!
Que não pertence à terra esta tristeza…
Que sou qualquer desgraça acontecida
Fora do seio mãe da natureza.
E contudo não sei de criatura
Que mais deseje ter esta alegria
De um fruto azedo que arrancou doçura
Do céu, das pedras e da luz do dia.
Leiria, 11 de Agosto de 1940.
Resta-me reiterar que o confronto – tal na prática esportiva ou outra ─ , é uma demonstração de disponibilidade e de amizade. Um abração, Amigo Frassino.
Prezado Frassino Machado:
Apenas hoje, 8.5.20, tomei conhecimento de sua Missiva a Diógenes de 10.1.15, onde o prezado amigo opina sobre uma preferência minha: “A prática da escansão torna a Poesia mais dinâmica, e, ainda mais, se lida em voz alta.”
Prezado Amigo Frassino, antes de tudo, praz-me informá-lo que sempre fui avesso contra a tal da Semana da Arte Moderna, que aconteceu em São Paulo, em 1922. Jamais busquei informações a respeito da mal fadada iniciativa, a não ser recentemente. Pois bem, fiquei alegre por saber que a dita cuja não foi aquele sucesso que erroneamente pensava que havia sido, muito pelo contrário; foi apupada, rechaçada. Atentava contra o rigor da forma, na Poesia, especialmente a parnasiana e na Pintura. Ora, não foi um de seus propositores, que opinou que o soneto é a obra-prima das formas literárias?
Todavia,que efeito depreciativo poderia ter causado estapafúrdias ideias na mente de pessoas fracas, imaturas, desprovidas de formação e de bons princípios? Sei lá! Fato é que tempos depois começaram a surgir homens que não homens, mulheres que não mulheres, governantes que não são governantes mas aproveitadores, e basta!
Mas fato é que o soneto não morreu, nem mesmo o soneto parnasiano, ou talvez sim, deixando em seu lugar, seu filho, o soneto neoparnasiano, igualmente formal e com conteúdo melhor. Mas quem sou eu para escrever sobre Literatura? Escrevo sonetos. Quanto ao texto de Antonio Ramos Rosa, muito bonito. Eu só haveria de sugerir que o primeiro verso fosse: “ Escuto na palavra escrita a festa do silêncio”, uma vez que a vocação da Poesia, de modo geral, é ser lida em voz alta.
Aprecio a Poesia de
Miguel Torga
Mágoa
Medas de trigo ao sol - Agosto,
Tudo o calor do Sonho amadurece;
Só a verdade amargura do meu rosto
Permanece!
Até me lembro que não sou da vida!
Que não pertence à terra esta tristeza…
Que sou qualquer desgraça acontecida
Fora do seio mãe da natureza.
E contudo não sei de criatura
Que mais deseje ter esta alegria
De um fruto azedo que arrancou doçura
Do céu, das pedras e da luz do dia.
Leiria, 11 de Agosto de 1940.
Resta-me reiterar que o confronto – tal na prática esportiva ou outra ─ , é uma demonstração de disponibilidade e de amizade. Um abração, Amigo Frassino.