Uma carta de ‘amorosidade’ para JOSÉ ALBERTO
LABIRINTO
O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente. (Fernando Pessoa)
Identidade
Missão
Tédio
Esperança
Dor
Saudade
Infância
Inconsciência
Felicidade
Alma
Amor
Angústia
Sonho
Ilusão
Sinceridade
Fingimento
Solidão
Evasão
Viajar
Sentir
Pensar
Razão
Tempo
Destino
Indiferença
Cansaço
Loucura
Ser
Cepticismo
Sorte
Morte
Coração
Verdade
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Estrada longa, breves flores, velha cerejeira, estradas de uma vida inteira, mil coerências e cores. Quantos caminhos, mumunhas e cheiros. Quantos abrigos e abraços, quantas trocas e oportunidades recebo dos teus olhos negros. Em tempos de olhares pérfidos, é sempre bom encontrar e reencontrar quem sempre soube nos amanhecer e não entardecer, quem sempre soube ser chegada e nunca partida. Como a lua e o vagalume, duas miragens que se contemplam, Se abraçam, e se fazem templo, onde o amor é prece. Tantos descaminhos, solidões e saudades, jardins e poças, frases ao avesso. Como bambu que verga, mas não quebra, o amor se forja nesses reencontros, onde nunca se fez partida. Faz tanto tempo que eu olhei pela vidraça, e ganhei de ti uma estrela cadente, e desde então nossas falas falam de verdades, como se fossemos a inocência daquele início de verão. Recordo ainda de todos os setembros, dos meninos e das meninas, da linguagem cheia de poemas perdidos, e que você desenhou no meu vestido, cada letra com a ponta do dedo. Um carinho direto no coração. Como esquecer? Não há sinos partidos, mas por quem os sinos se dobram? (eles sempre se dobram por ti), sempre por ti.
Tudo por que você ama, ama demais, e como não amar os que amam demais? E como semente quando se faz sol, esse chegar nunca se foi, é ou será tardiamente, e então assim da minha janela, eu te contemplo nesse chegar sereno. Venha sempre, por que quando vens eu suspiro a beleza, nunca se faz tarde, no vazio das horas se fazem vestimenta pra tua chegada.
Por onde caminha a tua poesia, eu sempre te espero, colho a flor mais bonita, e ensaio um mantra canoro para te receber. Venha sempre! Venha com teus poemas brincantes, com a tua filosofia de outono, traga-me as fases da lua (Começo, meio e fins), traga-te por inteiro. Esse nosso tempo obtuso, e tão confuso, recrimina amores livres, mas eu não ligo para pecados, não há lama nas mãos que se fazem jardineiras de tanta beleza. Há um conflito na democracia deste tempo, mas há que seguir sendo tempo de ir e vir, embora cada vez mais é só uma borrasca entre velas e velas, rosários, crucifixos e versículos. Mas ninguém há de dizer como nos amar.
E por esse tempo de fugas e silêncios,
De esperas e cartas, de morrer nas malvadezas dos olhos tortos de enxergar. Em que o poeta engravida a poeta com a sua beleza de dizer. Tempo de solidão sem você, de vasos, acalantos e umbrais, é tempo de dizer e não de calar... Se cuide, depois de tudo isso, quando tudo isso passar eu quero te abraçar, o que eu sou sem você? Se cuide, se cuide por favor... Preciso dos teus poemas coloridos, do não olhar para o relógio do tempo, dos cafés, da loucura da tua poesia que prende-me. Se cuide, se cuide muito por ai, este tempo não está para brincadeiras. Se cuide...
Amo-te
Saudades