Carta de amor nº1
As vezes pesa demais.
A casa, o vazio dela e as vozes ecoando e ressonando nas paredes brancas.
Ser forte. É um fardo que devemos carregar por nós mesmos e embora sempre haja torcida, cansa.
Ando procurando fazer o meu melhor, e me dedicar as minhas coisas aos poucos. Mas, como a gente consegue fazer sozinho as coisas que fazíamos juntos?
Tô vivendo. As vezes respirando, as vezes existindo e quase sempre sem muita paciência para “o que virá em seguida”. Mas estamos ai.
São meia noite e meia, e o sono fugiu. Acho que é uma deixa pras letras saírem de mim. Expulsar um pouco esses demônios me faz bem, assim posso conseguir dormir as duas, por aí.
E quantas noites de sono eu ainda vou perder te esperando chegar?
Quantos lugares eu ainda tenho que ver pra me dar conta que nenhum deles é tão lindo quanto o teu sorriso?
Quantas pessoas em papos aleatórios e vazios eu vou ter que encontrar por aí, pra me dar conta de que teus assuntos eram os melhores? Ou ainda, quantos lábios eu ainda vou ter que beijar – e me frustrar por não te esquecer?
Essas perguntas me assombram.
E nós branca?
Nosso beijo encaixava, e era perfeito. Nossos corpos eram dois, feitos de um só.
Até quem me vê andando pela rua, sabe que eu sinto saudades suas.
Eu poderia mentir e dizer que é coisa da quarentena, ou que é carência. Podia mentir pra mim e pra todos mais uma vez e dizer que te esqueci, junto com suas cartas na minha gaveta de cuecas. Mas hoje não.
Hoje eu tô tão cansado de tudo, que eu só quero falar que te amo.
É baixinha, quem diria.
A vida acontece, as coisas passam e você não.
E acho que vai ser assim por um bom tempo. Vou ficar aqui, quieto, cuidar da minha vida e da minha casa. É o que me resta a fazer.
Segurar a vontade louca de te encontrar e te beijar como no dia da minha formatura – só que sem ser de branco. Tentar me conter de te contar todas as coisas que vi nesse meio tempo, só pra ir te falando em doses homeopáticas. Ou ainda, me conter de toda felicidade que eu sinto só de olhar pra você.
Acredita que sonhei com você ontem? Você chegava, me acordava com um cafuné e aquele sorriso. A gente tomava um café e falava sobre as coisas que aconteceram quando a gente tava fora. Acordei com a minha gata subindo em mim e cheguei a conclusão de que Morfeu tinha me pregado uma peça. Acontece.
Sei que tinha tempo que não te escrevia. Mea culpa.
Mas foi preciso se perder pra finalmente se encontrar. Foi preciso afundar a cara na privada pra se dar conta de que ainda tem bastante coisa pra ver.
Mas, cá estou eu. Batendo teclas, em frente a uma tela na esperança pífia de que tu chegue a ler essas linhas mal escritas e com a concordância por fazer. Eu aos poucos tô voltando, ou tentando. Tem dias que eu consigo, tem dias que não. Mas a gente esconde tudo por trás da conversa fiada, dos copos de cerveja no bar e quase sempre passa.
Eu tô aqui.
E nunca deixei de estar – só quando andei perdido mesmo.
Tô com saudades de você, vê se não demora.
Pra encerrar, te mando um caminhão de beijos. Com toda a esperança e sentimento de que tu o receba.
Beijo do teu preto que nunca vai lembrar de te esquecer,