quando penso em Terra
quando penso em Terra, penso em chão, casa, mãe, penso em vida. Quando penso em Terra, sinto o sabor doce de seu fruto, e o amargo de suas medicinas. Quando penso em Terra, penso em doação, fertilidade, abundância, penso na pele queimada so sol, os lábios de sal da maresia. Quando penso em Terra, penso em caatingas, pantanais, desertos e cerrados, penso nas florestas e na grande diversidade - de espécies, climas e gente. Quando penso em Terra, penso nas suas águas, seus vales e montanhas, suas curvas. Penso na beleza, e sinto a Beleza. Quando penso em Terra, penso nos seus habitantes primários, povos originários, cuidadores da natureza - que se camuflam nas matas, bebem água do rio, tornam-se um com tudo ao seu redor, em perfeita harmonia, equilíbrio e sabedoria. Sabem ouvir as árvores e todos os espíritos das coisas vivas, desde plantas à pedras. Quando penso em Terra, penso em vastos oceanos, mares, lagoas, rios - Watu - o velho rio, grande sábio, nosso avô, que hoje já não canta mais, está sujo de sangue do homem branco civilizado, dominador, explorador, ambicioso, aniquilador, que por onde passa deixa suas pegadas vermelhas - e não é do urucum - mas de sua insensata sede de territórios pra colonizar. Quando penso em Terra, penso em dor.