Segunda carta aberta ao presidente da República, sr. Jair Bolsonaro
Ao excelentíssimo senhor presidente da República
Assisti agora há pouco a gravação do vosso pronunciamento do dia 08 de abril de 2020. Vi sua consternação com a situação do brasileiro mais humilde, que, segundo vossa excelência, não pode deixar de trabalhar.
Certo, não somente o mais humilde, mas todo brasileiro que produz e vive do sustento que seus braços ou intelecto não pode deixar de conquistar, também não pode deixar de trabalhar.
Porém, ao dizer que uns não podem deixar, logo concluímos que outros podem. Justamente os mais afortunados.
E por falar neles, vossa excelência deve saber que o país que dirige possui uma das maiores desigualdades sociais do planeta. Dados que uma pesquisa rápida me trouxe, dizem que o 1% mais rico do país ganha, em média, US$ 14.670,00 ao mês.
Vistoso, não?
Somente os ganhos mensais de um membro destes 1% mais ricos do país seria capaz de, em uma conta em papel de pão - perdoe-me se estou equivocado - bancar um auxílio a 124 brasileiros pobres, nos mesmos valores do coronavoucher. Ora, se a população brasileira é de 209,3 milhões de almas, este 1% mais rico corresponde a 2,093 milhões delas. Se os ganhos mensais de cada um dos membros desta parcela mais rica de brasileiros ajudasse outros 124 concidadãos mais pobres, seriam capazes de bancar o coronavoucher mensal de TODOS e ainda sobraria muito dinheiro. E tudo isso sem subtrair do patrimônio já acumulado destes mais ricos.
Já que o tempo atual é de guerra, como bem apontou em seu pronunciamento, então é excepcional e pede medidas excepcionais. Como vossa excelência é o chefe de Estado, decerto tem bons efetivos e meios a seu favor para “persuadir” esses mais ricos a colaborar dentro da excepcionalidade da situação. Isso ajudaria a poupar inestimáveis vidas dos brasileiros mais humildes, desoneraria em grande parte as contas públicas, tão combalidas, e permitiria uma melhor recuperação posterior à pandemia.
Fique com Deus.