Carta aberta ao presidente da República, sr. Jair Bolsonaro

Ao excelentíssimo senhor presidente da república

Vossa excelência deve estar lembrada, das aulas de História, que franceses e britânicos declararam guerra à Alemanha Nazista motivados por um tratado defensivo com a Polônia. O mundo já sabia dos riscos que a ideologia nazista representava, isso era claro. E franceses e britânicos, em respeito a um acordo com um distante povo, deram o primeiro passo numa empreitada que duraria seis anos, a ocupação de um, o isolamento de outro e o arruinamento da pujante civilização europeia.

Esses países, que depois sairiam vitoriosos da guerra, não fugiram à luta, mesmo que o inimigo fosse distante. Mesmo que não estivessem imediatamente ameaçados. Mesmo que o aliado a ser socorrido fosse estranho e afastado. E os líderes que ousaram enfrentar tal tirania são lembrados até hoje pela sua coragem.

E por que o Brasil de hoje parece temer a batalha? Por que parecemos tão dispostos a deixar concidadãos do grupo de risco, notadamente os idosos, que tanto fizeram - e ainda fazem - por este povo, expostos ao risco de morrerem à míngua nas mãos invisíveis do coronavírus em nome da economia?

Churchill não se furtou a colocar a economia do Reino Unido em xeque quando se recusou a aceitar a trégua com a Alemanha durante a Batalha da Inglaterra. E por que nós brasileiros temos medo do baque econômico mesmo que isso signifique a morte de milhares de compatriotas?

Estamos num momento-chave da história. Os líderes dessa geração serão lembrados pelo momento em que vivem. E qual a impressão que o Brasil quer deixar nesse momento? De uma nação acovardada, que não quis arriscar a circulação de bens e mercadorias para salvar seus próprios filhos ameaçados?

Se franceses e britânicos foram à guerra é porque sabiam que ela era inevitável. Vossa excelência, como capitão, sabe identificar um inimigo. E decerto sabe cuidar da sua tropa. Cuide de nós, senhor presidente. Do seu povo. E nunca tantos de nós deveremos a tão poucos dos senhores.

Fique com Deus

(Enviada ao excelentíssimo via sistema online em 27/03/2020, data dos trinta e três anos completos de idade deste autor)