DE MIM PARA MIM
Hoje foi um daqueles dias que só desejei chorar até pegar no sono. Não é comum pra mim, costumo fugir de qualquer coisa que me remete a tristeza e a dor, e vim pensando muito sobre isso nos últimos dias. Eu não me lembro o porquê e quando foi que eu construí esse muro, o bloqueio de sentir, de chorar e até de admitir que não estou bem, sei apenas que o meu inconsciente ativou um tipo de sistema imunológico pra isso. Nos últimos 4 ou 5 meses me permiti pela segunda vez sentir todo peso da dor que guardo em mim, e hoje eu repetia silenciosamente que nunca mais o faria por esse motivo. Coloquei as minhas lembranças todas em uma caixa, coloquei a minha preocupação, o meu amor e todos os planos de carinho e cuidado. Pensei em colocar o número de vezes que eu disse que ia embora e fiquei, mas decidi deixar para o lado de fora e não esquecer que eu ultrapassei o meu limite. Que eu não posso ir além, não mais, nem por amor e nem por carinho. Seja qual for o sentimento que mantive aqui por todo esse tempo, ele simplesmente não pode ficar. Foi a conversa mais extensa que tive comigo mesmo, me repliquei o suficiente até que eu pudesse jogar na minha cara coisas que me machucaram e que eu não permito para mim e para minha vida. Joguei baixo comigo, cutuquei a minha ferida e chorei de raiva, me senti péssima pelas vezes que deixei alguém perfeito passar porque eu estava ocupada tentando entender quem eu achava ser o perfeito pra mim. Pelas vezes que esqueci o que eu merecia porque estava ocupada me esforçando para entregar o meu melhor a quem eu achava que merecia. Pelas vezes que deixei de dormir. Pelas vezes que deixei de sair. Pelas vezes que deixei de sorrir porque eu estava ocupada me preocupando com quem no fim das contas, estava bem. São tantas as vezes... Dias, semanas e meses. Foi exaustivo dia após dia. Foi decepcionante a cada situação. Foi um pedaço do fim a cada reencontro. Eu não podia mentir para mim que não sentia esperança quando ela me olhava nos pequenos momentos de reencontros casuais. Que eu não a amava mais quando ela dizia não conseguir explicar o que sentia. Que eu não a queria de volta quando ela deixava claro com as suas próprias palavras que não conseguia me deixar ir. Mas deixou. E embora todas essas coisas me fizessem ficar por um momento, foram elas que me levaram ao fim. E continuo jogando tudo isso na minha cara porque não quero me esquecer que ela é o exemplo perfeito do que é errado pra mim. Não posso amar quem diz ter plena consciência de amor, carinho e felicidade ao meu lado, mas que não escolhe ficar. Toda admiração que gritei por ela, todo carinho, todas as coisas boas que eu enxergava, também estão na caixa. E esse é o meu maior problema no momento, porque eu não faço ideia se jogo fora, se queimo ou se coloco onde eu nunca mais possa ver. Talvez eu deva deixar ali, perto de tudo e onde eu veja todos os dias, porque eu jamais vou poder negar que ela passou por mim e me marcou, tampouco posso dizer que não me ensinou nada, mesmo que tenha sido com tanta dor. E tudo bem, sem pressa para saber o que fazer, levei meses para entender que nunca existiu amor e que as três palavras que saíram da sua boca, não foram sinceras. E talvez eu leve meses pra saber o que fazer com o que sobrou. As vezes a gente só precisa se auto confrontar, ninguém melhor que você mesmo para dizer o que sente e o que quer e o que merece.