Isolamento necessário e a noção de Pertencimento

Queridos,

Estamos vivenciando um tempo de "portas fechadas" em nossos dias diante desse cenário tão preocupante com o COVID-19. Passamos por ruas, avenidas e diante da nova realidade, até a forma de olharmos para o ambiente se modifica, não é mesmo?

As lojas, departamentos e outros setores sem funcionamento escancaram de alguma forma algo que NOS FALTA. Sofremos com isso. Aprendemos que precisamos ter cada vez mais e nem sabemos o porquê. Reparem que na lógica que vivenciamos em nossa sociedade, a vida parece ser o que tem menos valor.

Se antes tentavam nos vender a ideia de que "querer é poder", nesses novos dias, essa ideia não se aplica tanto. Agora o que queremos, SEJA LÁ O QUE FOR, precisa esperar a crise passar. É tempo de paciência enquanto as portas estão fechadas para que a vida possa ter continuidade.

E falando em portas fechadas, como estão as coisas em seu ambiente familiar? Esse tempo de isolamento nos permite pensar em muitas questões importantes e uma delas tentarei humildemente apresentar agora. Falarei sobre Pertencimento, vamos comigo?

Bom, para início de conversa, você pertence a uma família, a uma cidade, a uma época específica, a uma cultura e por ai vai. Pensando na família na qual você se encontra inserido, você aprende costumes, crenças e é colocado (de uma forma muitas vezes invisível) o que é esperado de uma pessoa com o SEU sobrenome.

Por muitos motivos, às vezes queremos e buscamos nos diferenciar da nossa família, mas carregamos medos de que se nos diferenciarmos, poderemos perder nosso lugar de pertencimento (de filho querido, de neto responsável, de irmão cuidadoso e por aí vai).

Seja lá qual adjetivo for colocado, um problema que se apresenta nesse tempo de crise é que muitas famílias alimentam a ideia de que para PERTENCER, é preciso que "todos pensem e ajam iguais" em seus lares. Veja que loucura esse pensamento! Parece que não acontece, mas pense em alguém perto de você que já foi criticado por familiares por pensar ou agir diferente do esperado, então!

O problema é que muitas vezes, os membros familiares não se dão conta de que PERTENCER A UMA FAMÍLIA não significa pensar ou agir igual e por isso experimentam diversos sentimentos: raiva (por não ter sua visão de mundo reproduzida por companheiros, ou filhos, etc), culpa ou medo quando se vê muito diferente de sua família. Tudo isso pode contribuir para que outros sentimentos apareçam, como o de solidão. E se sentir sozinho é muito diferente de vivenciar uma solitude.

Nesse tempo de isolamento, muitos estão "do lado de dentro" de suas casas com pessoas do mesmo sangue (ou não), mas com formas diferentes de olhar para a vida. Pode ser que esses momentos sejam vivenciados de forma saudável (ou nem tanto). Quantas brigas podem ser evitadas se entendermos que essa forma diferente de lidar com os acontecimentos faz parte! O difícil é achar um bom termo, estabelecer limites claros e respeitar (em todos os sentidos da palavra). É tempo de ser uma pessoa melhor, de tentar ver os outros com olhos de perdão, de compaixão.

Esse tempo de portas fechadas para o consumismo acelerado, para a produtividade desenfreada convida a "abrir as portas" dentro de nós. Esse contato com o mais íntimo é uma oportunidade de cada um buscar seus próprios gostos, de entender e até repensar a sua forma de pensar as coisas. É TEMPO DE SE RECONHECER!

Pertencer a uma família é muito importante, mas esse pertencimento abrange muitas coisas, entre elas o respeito com formas diferentes dos membros lidarem com as situações da vida e respeito ao outro como alguém que tem sentimentos, vontades e possibilidades de agir dentro daquilo que acredita. Um pertencimento saudável envolve ter o seu lugar em sua família, porém sem se "anular".

Por isso, meus queridos, nessa tarde fresca e praticamente silenciosa, deixo para cada um o convite para que vocês tirem tempo para se conhecerem. Pode ser que por trás dessa culpa que você carrega, existam crenças distorcidas que precisam ser repensadas! Pode ser que por trás dessa necessidade desenfreada de estar o tempo fazendo alguma coisa, exista algum sentimento EM VOCÊ que precise de atenção. Aproveite essa pausa obrigatória de nossos dias para que você possa cuidar de sua saúde mental, estando você nesse momento perto de sua família ou longe deles.

Saúde envolve o bem estar físico, psicológico e social, envolve cuidar dos pensamentos que você alimenta, tirar tempo para cuidar com carinho de sua alma e não apenas se preocupar com a doença. Por isso, termino esse texto sobre isolamento e pertencimento com algumas perguntas importantes:

1. Será que você ESTÁ DE FATO SE PERTENCENDO?

2. Será que está tirando tempo para abrir as portas aí de dentro e repensar suas manias, seus pensamentos, seus sonhos?

3. Será que está se RECONHECENDO no meio dessa bagunça toda de sentimentos que você tem vivenciado?

E por fim, como está sua saúde nesse tempo de pertencimento?

Nessa crise, é tempo de se redescobrir. É tempo de paciência, de respeito a esse período de recolhimento tão necessário e é tempo de se permitir ser uma pessoa melhor tanto para os outros, quanto para você.

Com carinho,

Lirlaine Vaz

Lirlaine C Vaz
Enviado por Lirlaine C Vaz em 25/03/2020
Reeditado em 25/03/2020
Código do texto: T6896767
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