Aos poucos...

Dizem por ai que o amor romântico acaba e sobra somente o amor e que as pessoas parecidas demais tendem a não ficar juntas por muito tempo. Nada disso faz muito sentido, quando você pensa em amor como peça fundamental para a construção de todo quebra cabeças, ou tão simplesmente como força motriz, como energia vital.

Dizem também que a pupila dilata quando a gente ama alguém, dizem que a paixão causa efeitos semelhantes aos da cocaína e aos do TOC, dizem que o amor é uma cachoeira de adrenalina e que ele é tudo o que importa.

Ué, há quanto tempo eu só sei falar de amor?

Há quanto tempo eu tropeço no mais puro desequilíbrio que é estar no ápice da sensação cardiológica oxitocínica pulsante dentro do cérebro?

Questiono meu majestoso órgão dotado de pensamentos fofos e às vezes bélico, mas só às vezes, maximizador das paranoias e centralizador desse sistema nervoso que está cada dia mais próximo de colapsar.

E por falar nesse gerador de insuficiência cardíaca e consequentemente confusão mental, vista grossa faço ao amor!

Mais deslavada, impossível, tal prosopopeia flácida, balela mais descabida, blablabla sem pé nem cabeça.

Como posso eu, logo eu, proferir fábulas acerca desse sentimento que faz dos meus olhos dois poços infinitos de pura pretidão?

Eu que respiro, transpiro e posso ate arriscar dizer que vivo em constante fusão com as mais novas formas de descobrir como amar e amar, e amar desmedidamente e amar mais um pouco. Eu que penso no amor como um processo infinito de meiose, como uma cadeia carbônica homogênea insaturada. Logo eu que nunca fui boa em matemática me pego fazendo contas, eu conto cada segundo do dia, cada momento com você, conto desde quando me aperreie em não saber mais viver sem beijar você.

Infelizmente não posso contar desde quando lhe notei e lhe amei porque esse registro ficou um tanto quanto desarrazoado em meio ao momento inicial de raiva, mas está ali, apregado entre um palavrão desrespeitoso e uma humilhação emocional advinda de uma declaração, todo show proporcionado pela pessoa que vos escreve.

Desde que senti seu beijo no meu, pela primeira vez, quando ele ainda era tosco, desencaixado, sem forma, (parafraseei você) foram exatos 249 dias, 35 semanas e 5 dias, 8 meses e 5 dias. 5979 horas de uma constante sensação vívida de paixão. A loucura mais sã que pude experimentar.

Meu bem, conhecer você me fez pensar que o amor perpassa as linhas da sanidade, da minha sanidade. Cada dia eu sinto algo diferente, mas ainda assim cada dia o amor bate mais forte, a sensação de respirar você é mais intensa. Ainda que a contínua maturidade emocional me faça perceber que amar você é soltar a minha mão da sua, é pular do barco e mergulhar na imensidão do mar, você me entende?

Dia após dia eu tenho a certeza que você é o meu amor da vida, me imagino lendo isso aqui décadas "a frente", e tendo a mesma sensação, você é o meu amor da vida, mas eu sei que não é o amor para a minha vida. Nem sei se duramos como amigos, colegas talvez, mas quando eu voltar a ler isso, você não mais estará comigo, eu lhe serei uma estranha e você, um tesouro em meu baú de pensamentos.

Você é o amor que eu nunca imaginei sentir, bem como nunca sonhei ter, você foi e por enquanto é um sonho real, daqueles que a gente passa a madrugada acordando e se forçando a dormir novamente, insistentemente para evitar de perder os melhores momentos, mas a pior parte é que eu sei que hora ou outra, não dá mais para forçar voltar a dormir e continuar sonhando, a gente acorda e tudo fica na lembrança, tudo fica nos confins da mente e nesse caso do coração, e por mais que a gente queira não dá para voltar a viver aquela historia.

Sonhar acordada e despretensiosamente é a exata sensação de estarmos sentados pela ultima vez, à mesa, com alguém que amamos, sem ao menos nos darmos conta que é a ultima vez.

Um sem número de palavras jamais definirão a complexidade do amar, afinal o coração age por si só, faz o que quer, a gente tá ali rezando, pedindo e implorando que ele volte para o prumo, mas ele tem guia próprio, tem rota própria, caminho incerto e só bate se for descarrilhado.

Meu coração ta batendo descarrilhado, por demais, mas está entrando em acordo com meu cérebro, querem virar vizinhos, compartilhar das decisões, beber da fonte da sanidade sem perder sua essência. Somente assim, amor meu, eu lhe amarei sem desejar estar com você, seremos livres, eu, meu coração e minha mente.

Aos poucos eu solto a sua mão e mais difícil que isso é só imaginar faze-lo, todo santo dia.

FauS
Enviado por FauS em 18/03/2020
Código do texto: T6890423
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