Uma ausência de propósito
Destituído de propósito, acordei com preguiça e comecei uma maratona no netflix.
Esqueci minha angustia no prazer da fantasia dos filmes.
Destituído de propósito, acordei com desejo de comer.
Esqueci minha angustia no prazer de navegar na internet com os dedos lambuzados de gordura.
Destituído de propósito, acordei com um desejo vaidoso de ser reconhecido.
Esqueci minha angustia no prazer da academia, nos esportes radicais e nas ilusões das redes sociais
Destituído de propósito, acordei inundado de libido.
Esqueci minha angustia no prazer da luxúria potencializada pelas drogas.
Destituído de propósito, acordei com preguiça, com desejo, com vaidade, com libido e a mesma angustia de todos os dias.
Lembrei do prazer que me faz esquecer.
Lembrei da dor que acompanha todo desregramento.
Mas, destituído de propósito, a angustia me fez esquecer da dor e salientar o prazer
E repeti essa mesma vida ate morrer.
Imbuído de um propósito:
Acordei com preguiça e comecei arrumar minha casa
E esqueci qualquer angustia ao fazer do trabalho uma oportunidade de redenção.
Acordei com desejo de comer e comi uma comida justa e frugal.
E esqueci qualquer angustia ao fazer da alimentação um exercício de moderação.
Acordei com um desejo vaidoso de ser reconhecido
E esqueci qualquer angustia ao renunciar minha vaidade no cumprimento de meus deveres
Acordei inundado de libido.
E esqueci qualquer angustia colocando essa sagrada energia em serviços altruístas e desinteressados.
Acordei com preguiça, com desejo, com vaidade, com libido e uma angustia de todos os dias.
Mas, imbuído de propósito, sorri para todos eles e a angustia transmutou-se em paz.
E repeti essa mesma vida pela eternidade.