14 Março
14-03-1973 Marta
11-10-2010 Adeus Marta
Hoje seriam 47!
47 celebradas de uma maneira tão diferente do que gostarias, mas contigo no coração e no pensamento que me perseguiu o dia inteiro.
Sem coragem de escrever, sem saber o que te dizer, sobram ainda lágrimas pelo que a tua ausência me marca a vida e as mãos que se sentem sempre a meio, mais vazias.
De dia oito a dia 11 de outubro do ano passado não consegui partilhar uma letra pela primeira vez, mesmo quando pensaram que estavas mais esquecida, não consegui porque o meu luto dura o ano inteiro, mas nesses três dias tenho sempre uma crise menstrual, pós-parto, depressiva, morro um pouco mais por dentro, e simplesmente não consigo nem quero dizer mais nada.
Mas o dia de hoje simboliza a tua vida, o dia de inverno, mas sempre com um arraiar de sol extraordinário a espreitar a primavera. É incrível, não é? Incrível como brilhas sempre aqui ou daí.
Isto por aqui avizinha-se tempos muito difíceis, de medo e ansiedade, é um dia que nos encontramos fechados em casa na esperança de não ver sofrer os que amamos entre quatro paredes e na dura fé que não magoe ou leve nenhum daqueles que fazem parte da florescência da vida e da alegria da humanidade e fazem brilhar os meus dias.
Tenho medo, acho que é a primeira vez desde que morreste que tenho verdadeiramente medo, medo de voltar a perder, medo de morrer… Por eles, apenas por eles. E eu que tantas vezes escrevi que tinha perdido o tremor e o rigor da espinha, que já nada me fazia temer depois do murro no estômago e a mordaça na vida que dura para sempre com a tua ausência.
Anda por aí um vírus, vírus daqueles que nos ensina que nada é mais importante dos que amamos, que os tempos que vivíamos era cheio de desperdício e mordomias, que não estamos minimamente preparados para uma guerra mundial, uma arma biológica ou uma pandemia, para nada! Nem sequer para estarmos fechados entre paredes a conhecer aqueles que sabíamos ser a nossa família, mas não a vivíamos.
Estou triste, e esta tristeza contrasta enormemente com a tua alegria, com as tuas gargalhadas e com este teu olhar que me persegue sabiamente por tantas vezes e me dá algumas diretrizes.
Tenho saudades tuas, percebes? Imensas, esta merda dura para sempre, é uma antítese, lembrar-te devia ser alegria, mas não tenho alegria nenhuma quando me lembro que já não existes no mesmo espaço que eu.
Por isso ficam aqui as minhas palavras, cheias de angústia, meio desaustinada e que a tantos não sabem a nada e provavelmente não sabes, não lês e não sentes nada também.
Isto agora por aqui são esperas à porta da farmácia com um metro de distância na entrada para o balcão, filas no supermercado depois de encontrares prateleiras vazias alimentando o medo do fim do mundo que preenche alguns da nossa sociedade, medo, medo e medo, e eu neste momento só tenho medo da perda e de te escrever…
Vives em mim dia após dia, já não é sangue ou réstias de carne, é ar, água, alma.
Trago-te comigo, carregada no colo mesmo que por vezes tão pesada como trago os meus filhos aos ombros, trago-te na voz e no grito, na vontade de escrever e de te ter.
Passaram quase dez anos…
Sem Marta.
Parabéns estrelinha
Parabéns minha síndrome do meio
Estaremos sempre ligadas….
Saudade é uma palavra tão pequena perante o vazio que a tua partida me deixou