Autoreversão, um distúrbio em nota.
Ilha de Pitcairn, pacífico sul. 25 de julho de 1960.
Terminei agora a pouco uma pequena lista de classificação com espécies de insetos. Essa ilha remota em que viajei, me estimula muito mais a escrever. As noites aqui parecem ser mais breves. Reitero ainda que, Pitcairn talvez seja mesmo a ilha mais remota da terra. Fui informado ontem pelo comandante da embarcação de nome Luxenloy, que estamos a uns 5.700 quilômetros da América do sul. E que os vizinhos mais próximos seriam Taiti, Rapa Nui e Akamaru, este último estando a uns 530 quilômetros. Enfim. Antes de dormir, queria deixar uma pequena nota em meu diário que, antes fosse também sobre insetos, mas na verdade é sobre o pior dos animais. Sentado frete a escrivaninha ao lado da cama, e com meia xícara de chá quente do meu bom e velho capim-santo, que embaça meus óculos toda vez que esqueço de tirar. As vezes me sinto como os ingleses do século dezoito, que consumiam muito chá. Diferença é que bebo apenas com açúcar, e não misturado com leite como faziam.
Durante meu tempo de vida, e em prematuros 15 anos de estudos e pesquisas da psiquê humana e biologia em geral, tenho observado por muitas vezes não discretas, algo que me deixa encabulado no que se encaixaria em gênero de observação “transtornos de personalidade e mudanças de humor súbitas”.
Pois bem. Imaginem vocês que, cheguei a ter muitos conhecidos e que cheguei achar que fossem meus amigos. (De amigo mesmo creio que posso contar com uns três ou quatro sabe, e não sou mais otimista em relação a mudança disso.) E é exatamente aí que entra o que, para mim, é algo que até o dia de hoje é um mistério. Apenas saliento que, não obtive nenhuma resposta já definida em materiais acadêmicos e livros dos quais li e me dediquei às pesquisas. Seja em, síndromes gerais psicológicas, fatores hereditários, fatores culturais ou sociais, etc. Até recorri a uma breve leitura em alguns artigos de psicanálise. Claro que tirei proveito de todos esses escritos, mas não vi foi o nome já declarado de tal fenômeno.
Sem mais delongas é, das tantas e tantas pessoas que conheci e tive até certos vínculos fortes, entre o pouco tempo em que tive de me afastar delas e quando voltamos a nos ver, fizeram questão de deixar bem claro para mim que não queriam mais o meu contato ou grau nenhum de amizade. Fizeram isso com um singular olhar de malícia e desdém e eu percebi. Como “ah é você! claro que sei quem é você, mas olha só? Faço de conta que não conheço. Não quero mais sua amizade.” Em outros casos, nem precisamos nos afastar. A mudança brusca se deu mesmo sem nenhuma distância, como da noite pro dia. Isto é algo que ultimamente tem me feito pensar e refletir bastante.
Mas bom é que em todo meu empenho etiológico, posso ao menos descrever isso como “distúrbio da mente”. Só não tenho certeza, isso é verdade. Quando penso sobre, as vezes, até me assusto e me bate certa indignação. É como se eu tivesse feito algo de muito errado com elas sabe? Algo que tivesse feito elas se prejudicarem. Dava para ver certa raiva neles. Mas não. Eu sei que não fiz nada. Não de ruim. Pelo contrário, eu ajudei muitos dos que se afastaram dessa forma estranha.
Minhas muitas leituras também me fizeram entender que, isso é muito ligado ao ego de cada um. Orgulho, vaidade, soberba, o pensar só em si, a pobreza horrenda de espírito. Algumas dessas pessoas, conheci quando ainda eram crianças, ainda com aquela pureza bonita e doce. Aí percebi que lá pelas suas adolescências, isso foi ocorrendo. Hoje, não olhariam mais na minha cara, mesmo que vissem, como já fizeram. É como um ressentimento ou mágoa por algo que nunca nem imaginei fazer. No fundo mesmo, a parte boa para mim disso tudo, é poder adentrar nessa ótica de estudo da tal mente humana. E depois que vejo quem eles realmente eram, fez bem ter me afastado. Mas é estranho. Tem seu lado ruim também. O que diz respeito a mente humana, sempre me causa medo e horror… Mas ainda assim tamanha curiosidade e grandiosa necessidade em estudar e observar.
Meu chá está esfriando, vou terminá-lo e dormir. Amanhã tenho muito o que escrever e andar também. Preciso descansar, sinto saudades de ter bons sonhos na noite… Daqui três dias não estarei mais aqui. O velho Loxenloy não deve parar. Nem eu.
Dedico essa nota ao meu velho amigo Ernest Kaflaf, o qual não vejo a uns 5 anos. Espero um dia te reencontrar novamente meu velho, e tomarmos aquelas maravilhas de cerveja belga, naquele velho bar em Copenhague.