Uma carta para o tempo.

Uma carta para o tempo

Por que? Por que você fica retornando em minha mente. Já faz tanto tempo que você se foi. Eu sonhara com você noite passada, seus cabelos negros voavam com o vento, em cima de um mirante sobre as arvores. Jaziam um brilho forte em você, te iluminava, como um farol. Acordei com a respiração ofegante, como tinha tempo que isso não me acontecia. Sabe o que fiz? Tomei um gole daquela bebida que você adorava, sim, whisky, essa mesma. Não era nem sete da manhã e eu já estava me afogando com a única coisa que me deixa sólido ao chão, o álcool. Aquelas gotas, é a única solução para te tirar da mente, um ótimo bloqueio para meus pensamentos. Porém, naquele dia você não se foi, você garota, continuou ali. Simplesmente, você ainda não se foi, não por completo. Com a garrafa de whisky barata nas mãos eu me lembrei. Lembrei de você, do seu sorriso, do seu olhar, de como você era linda. Lembra daquele dia? Eu te busquei em casa, por voltas das seis da noite. O sol já tinha se posto atrás das montanhas e, nuvens cobriam a cidade iluminada por cores brancas nas janelas. Quando você me viu chegando perto de sua casa, um sorriso ardente foi visto em seu rosto. Você me abraçou e, me beijou, eu, retribui com carinho. Você me disse que estava com fome e que não tinha comido nada desde do almoço. Fomos direto para um food flash perto do centro da cidade, se lembra? Pedimos dois sanduiches e você disse “vamos comer na sua casa, assim nós poderemos nos esbaldar com os molhos”. E assim fomos, felizes. Você me contava como tinha sido seu dia e, eu escutava, de verdade, escutava cada detalhe. Você era um livro, não daqueles pequenos em que você folheia as páginas em um dia, mas sim um livro grande, enorme da qual a leitura se torna difícil e incrível. Um livro do qual eu nunca conseguirei chegar ao final. Nós comemos, risadas foram ouvidas, as paredes contaram para os vizinhos que contaram para os próximos e, o que contavam entre si? Contavam em como nós dois estávamos felizes naquela noite, em como nossas risadas estavam conectadas, como um único ser, intangível, consumido por um sentimento puro, da qual pessoas morrem sem saber o sabor daquela deliciosa felicidade. Depois das risadas, você me contara uma história, de como seu pai quase destruiu o natal contratando um papai Noel. Como eu gostei daquela história, o homem que seu pai contratou chegou na ceia de natal, totalmente chapado por alguma droga, o senhor chegou gritando oh oh oh! Totalmente louco e engraçado. “Suas calças estavam pequenas demais para suas pernas grandes” você disse. Seu pai para proteger o natal, retirou o velho e o levou para o hospital, uma data da qual você nunca esqueceu. Depois ficamos deitados, ali, sobre a cama. Seu cheiro, aquele maldito cheiro. Droga! Nunca achei alguém com aquele cheiro, seu cheiro era comparado a mil rosas sobre um belo jardim grego. Um cheiro que me marcou. Eu adorava sentir o seu cheiro enquanto você se debruçava sobre meu peito. E naquele dia estávamos assim. Você deitara sobre mim, colocou a cabeça no meu tórax e de repente, começou a chorar. Logo me preocupei e te perguntei o por que, por que estava chorando e, então você me respondeu: “Apenas tenho medo...medo de te perder, para sempre”. Eu disse que isso nunca iria acontecer, não é mesmo? E olha como estamos, separados, longe um do outro e, já faz tanto tempo. Será que você ainda pensa em mim? Será que se pergunta como estou, ou o que estou fazendo? Eu continuei a minha vida, fui atrás do meu destino. Mas uma sombra me persegue e temo nunca me deixar. Quando você se foi, levou também um pedaço meu, um pedaço da qual nenhuma pessoa jamais terá. Eu te amo...amo como um homem ama sua vida, amo sua lembrança, mesmo ela me destruindo por dentro. Como fios que se arrebentam, eu me desfaço a cada dia. Porém, eu não gosto mais de você. Não quero você de volta, não quero os mesmos momentos, temo que você tenha mudado. Você se torna algo em minha mente, algo metafisico, algo da qual fica melhor em lembranças arquivadas em pastas cinzas. Você me fez feliz, me transformou em algo da qual teria orgulho. Um dia, talvez eu te esqueça, ou não. Espero que na próxima vida, o destino me leve até você. Vamos nos cruzar em alguma rua, as folhas estarão caindo sobre nossos pés e assim poderei olhar novamente em seus olhos. Olhos negros como uma noite sem luar, aqueles olhos que se transformam em buracos negros da qual eu me deixei ser puxado para dentro. O whisky já está acabando e, o dia apenas começou. Preciso deixar você ir por enquanto, até aproxima, senhorita.

Eduardo Ventura Andrade
Enviado por Eduardo Ventura Andrade em 02/03/2020
Código do texto: T6878988
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