19 de fevereiro de 2020.
Agora são, exatamente, 2h45 do dia 19 de fevereiro do ano corrente.
Ainda não dormi.
Faz algumas horas que ouço músicas mágicas e as considero atemporais.
Pra mim, são obras de arte atuais, eternas.
Provocam-me diversas emoções, sensações, percepções, devaneios, arrepios, calafrios, lágrimas e
sorrisos.
É uma mistura muito doida de incorporar o mundo pelo som, pela canção.
Há nelas umas mensagens "fuderosas" de experiências de vida que podem ser conjuradas na
morte. Como se se morresse - eu morresse - em cada nota, dedilhar dos violões, voz dos "anciãos",
é muito "foda", é transcendental.
E não seria uma morte ruim. Pelo contrário!
Estou, quando da companhia delas, numa paz divina que só reconheço e compartilho estando
com Maria Helena, minha filha.
Olha, tem tanta coisa que me vem à lembrança trazendo um revertério cerebral que faz do COMA
um cochilo.
Há um resgate da minha infância de quando ouvia as músicas que meus pais e parentes ouviam. É
um remonte, talvez, a vidas passadas, as quais nem sei quem fui, e às futuras, que nem sei quem
serei.
Recordo-me de um tempo adolescente, quando me sentava à frente da radiola SHARP da casa da
saudosa vovó Prazeres e colocava e ouvia os discos de vinil nas coletâneas de Dudu, meu avô:
Toquinho e Vinicius, Tom Jobim, João Gilberto...
Sozinho eu ouvia e chorava não sei o porquê e nem do quê.
Era tão natural e espontâneo que havia dor e prazer simultâneos, instantâneos.
Eu não queria estar noutro lugar fazendo outra coisa.
Meu avô paterno faleceu eu ainda era bem criança, e nem pudemos ouvir seus discos juntos, pois
ele foi/é um grande influenciador, inspirador, motivador, torcedor.
Lembro-me de uma coleção de fitas cassetes de clássicos que ele tinha, desses combos de
revistas.
Havia Beethoven e eu era fascinado pela 5ª Sinfonia. Ouvia seguidas vezes.
Era bem criança, mas sinto como se fosse hoje.
As vezes dói, como agora.
Nunca vai deixar de doer.
É uma dor do bem.
Mas, sabe, eu não sou desse tempo.
Às vezes eu sinto que já passei.
Fábio Barbosa.