Carta ao meu carteiro
Natal-RN, 23 de fevereiro de 2012.
Senhor Carteiro,
Bom dia! Como vai o senhor? Faz três dias que não o vejo. Três dias que não recebo cartas. O senhor nem imagina o que tenho guardado para lhe presentear: uma flor. A primeira flor do meu jardim. Eu que nunca soube cuidar de nada, hoje tenho um jardim florido que espera meus cuidados. Não é uma flor qualquer a que vou lhe dar. É uma flor que precisa ouvir histórias para manter-se viva. Como sei que o senhor é uma pessoa atenciosa, meiga e carinhosa, guardei-a para o senhor.
As flores sempre me fizeram lembrar bons momentos, boas pessoas, bons sonhos. Quando essa flor desabrochou no meu jardim a primeira pessoa de quem lembrei foi do senhor, pois ela logo me perguntou: não há cartas para mim? – Ora, ora, pensei eu – como pode uma flor logo ao desabrochar querer cartas? Expliquei-lhe que era impossível ter cartas para ela uma vez que tinha acabado de passar a existir. Ela ficou toda sentida. Quase morreu. Eu fiquei nervosa. E rezei para que o senhor aparecesse com uma carta qualquer só para ela não morrer. Mas depois vi que é mais uma daquelas flores que gostam de ser mimadas e paparicadas.
Eu não sei se o senhor tem um lugar para colocá-la. Mas acho que ela vai gostar muito de ficar próxima de uma janela, pois ela me falou que gosta de ver o nascer e o pôr do sol. Seja como for, senhor carteiro, essa flor que lhe presenteio espera receber cartas. Como o senhor é um carteiro saberá o que fazer com ela. Como o senhor além de ser um carteiro é uma pessoa maravilhosa tenho certeza que a mimará como merece. Só tome cuidado para ela não explorar demais da sua doçura.
Em todo caso apareça logo, pois eu não tenho tempo para ficar mimando uma flor que todos os dias me pergunta se tem cartas para ela. De quem será que ela espera receber cartas? Seja como for a rosa é sua, senhor carteiro.
Rosângela Trajano.