Carta a quem fui um dia

Olá, querida alma juvenil.

Escrevo-te com amor no coração. Sei que muitas vezes tomou decisões que hoje ainda me afetam, negativa ou positivamente, já não importa. Porque não adianta o que eu faça, nunca saberei o que seria de mim se naquele dia você tivesse atravessado de rua, atrasado, desligado o telefone, mudado de caminho.

Vai adiantar então, ficar com o coração na mão? Imaginando os infindáveis "e se"? Não.

A vida adulta não é um mar de rosas. Sei que a gente era um ser sonhador! Lembra que você tinha certeza absoluta de que seria uma pessoa rica? Você dizia que sentia que a vida para ti seria fácil. Não foi.

Aqui, hoje, eu vivo os dias reais, trabalhando, tendo que pagar contas. Já não gosto mais de baladas, dormir tarde, nem de música alta. Quanto pique eu tinha quando era você! Agora prefiro a natureza e as poucas e boas companhias.

Falando nelas, tenho algo chato para te contar. Inevitavelmente essas pessoas que você acha que são suas amigas, essas mesmas que você faz planos de ter amizade para o resto da vida, hoje não sobrou nenhuma.

Algumas ainda tenho contato nas redes sociais, de vez em quando (bem, de vez em quando) nos encontramos pelas ruas. Muitas das pessoas estão casadas, com filhos. São outras. Eu também sou.

Se eu puder te dar um conselho enquanto ainda é jovem, eu digo: aproveite o dia. Ria. Mesmo que saiba que todas as amizades vão passar, aproveite-as. Não há culpados, é a vida. Enquanto você tem pique de dormir tarde e acordar cedo, faça. Enquanto só precisa estudar e paquerar, faça. Fale alto mesmo, ria alto mesmo, seja um ser escandaloso como um típico adolescente. Daqui a pouco, vão sobrar só as conversas baixas, a necessidade de falar baixo e se comportar no mundo adulto, de pessoas muitas vezes, baixas.

Só não use drogas. Tenho orgulho de saber que você sempre teve consciência disso. É uma ilusão tão grande. Sempre se mantenha em bons grupos, porque... sabe aquela história do "me diga com quem tu andas, que te direi quem tu és"... então. Os adolescentes têm a necessidade de se sentir pertencentes, e em grupos que a droga é algo natural, acaba sendo natural para todos, inclusive para você que não gosta, mas que precisa pertencer. Saia fora. Há muitos outros grupos bacanas.

Tenho orgulho, ao olhar para trás de quem você é, de quem sempre fui. Mesmo tendo quebrado a cara ao sonhar demais, passar horas e horas divagando. Sinto por não ter tido dinheiro para fazer todos os cursos que quis, de fazer todas as viagens que almejei, de não ter feito um intercâmbio. De não ter estudado naquela escola dos sonhos, mesmo tendo ganhado bolsa. Talvez se tivesse estudado lá, teria passado num vestibular de faculdade pública, teria até escolhido outro caminho, estaria já com minha casa, com um casamento e com filhos. Estaria com estabilidade financeira.

Mas, lembra? Não adianta nada pensar no "e se". Perda de tempo.

Você não tomou as melhores atitudes no âmbito profissional, nem no pessoal. Teve namoros que, vamos combinar, não é? Estava na cara que não era uma boa. Mas você é de uma teimosia inquestionável.

A parte boa é que acho que não existe uma alma viva nesse planeta que fez tudo certinho. Você não tem como prever o futuro.

Bem, deixa-me ir. Escrevendo para você tive uma ideia mais interessante. Vou escrever uma carta para alguém que está mais perto, você está muito distante.

Escreverei para a pessoa que sou hoje. Preciso dar alguns conselhos a ela. Para que o ser de amanhã não fique bravo comigo.

Um beijo com carinho, viva intensamente.

Thaís Falleiros
Enviado por Thaís Falleiros em 16/01/2020
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