Natal-RN, 20 de julho de 2017.

Queridas amigas poetisas,

Eu sempre fui meio bicho selvagem, tatu ou embuá, como já disse aqui. Não sei o que é ter um amigo e acho que nunca saberei. Em toda a minha vida só tive decepção com as pessoas, pessoas essas que fingiram ser minhas amigas por uma vida inteira e me decepcionaram quando mais delas precisei. A vida me ensinou que não existem amigos mais, que eles se encantaram há muitos séculos.
Temos perto da gente pessoas que nos admiram, nos respeitam, sentem os mesmos interesses pelo que sentimos e só. Como dizia o filósofo Montaigne a amizade é baseada em interesses múltiplos. Pois bem, hoje é um dia triste para mim, mais triste do que o dia de Natal, talvez. Hoje eu entro no meu buraco para sair apenas amanhã.
As pessoas grandes sempre me assustaram. Elas não sabem entender o mundo do meu jeito e isso sempre foi motivo para as minhas sessões de psicoterapia. A minha psicoterapeuta diz que sou muito sensível e que o mundo com o qual desejo só existe nos meus sonhos assim como o meu melhor amigo que é imaginário e só existe dentro de mim. Para o meu amigo imaginário dedico este dia e peço que ele venha me visitar hoje, pois comprei um bolo de chocolate para nós dois comermos mais tarde com chá. O meu amigo imaginário é uma pessoa legal, nunca discorda de mim, e vive me dando conselhos que às vezes escuto, noutras não. Desde criancinha tenho amigos imaginários, alguns cresceram e foram embora, outros precisaram ser amigos de pessoas que necessitavam deles e só me restou o Lucas, meu amiguinho peralta.
Mas, para vocês que têm muitos amigos desejo um dia cheio de luz, paz e poesia. Um dia florido com cheiro de algodão doce e pipoca quente. Eu não tenho o que comemorar. Meu dia hoje será triste se Lucas não vier me visitar. Ele esquece as datas comemorativas e sempre chega atrasado, mas chega. Pior é quem nunca vem.
Abraços,
Rosângela Trajano.