Carta tirada do diário de um soldado, após perder seu melhor amigo numa batalha na segunda guerra. Foi achado nos escombros de uma cabana abandonada, sem data.
Escrevo olhando para estas montanhas cobertas de poeira, poeira de guerra, campos destruídos, frio, fome, falta de banho, falta de aconchego, perdas, sofrimento por ter de matar pessoas que nunca me fizeram mal, mas a realidade aqui é: ou você mata ou você morre. E você morreu nos meu braços meu amigo. Gritei de desespero e ao apontar minha arma para matar o soldado que te matou, ví a dor e o sofrimento no rosto dele por ter te matado e não consegui atirar. Apenas tentei te salvar e falhei.
Enquanto a batalha ficava acirrada, em meio ao medo e o pânico, eu lutava pela sua vida protegido pelos nossos bravos companheiros de guerra, mas infelizmente tive de te dizer adeus. Todos nós temos de morrer não é mesmo? A verdade é que tenho de me apegar a algum motivo para amenizar meu sofrimento.
Estive pensando em toda a nossa vida, nossas casas. Será que eu vou conseguir voltar? Será que eu verei meus filhos correndo nas planícies, nos vales onde tivemos uma infância tão feliz? Há tantos mundos diferentes, tantos lugares, mas apenas um sol e uma lua. Hoje é dia de lua cheia e a noite está tão bonita que parece que estou em nossa cidade. É o universo te homenageando.
Nossa amizade estava escrito nas estrelas, nas linhas de nossas mãos e sempre será eterna.Sei que um dia vamos nos reencontrar. Nós homens somos criados para sermos fortes e as mulheres frágeis. Algumas mulheres repudiam a fragilidade e tentam ser como nós. Se elas soubessem o quanto é difícil ser forte, o quanto dói não poder demonstrar nossa fragilidade. Agora mesmo estou chorando escondido. Chorando porque sobrevivi. Obrigado poer ter existido em minha vida.
Até um dia meu velho.
O diário estava judiado pelo tempo, mas a carta estava intacta, como se esperasse que algum dia alguém ia mostrá-la ao mundo. O dono nunca se pronunciou e o diário está exposto em um museu da segunda guerra.