Sobre os juízos, a salvação e a hipocrisia
1. Observando aqueles que se julgam secretários de Deus sobre a terra, vejo que eles sabem, exatamente, os que são e os que não são merecedores de uma vida melhor além desta vida.
2. Elencar os salvos a partir dos seus próprios parâmetros é repugnante ante o mistério da eternidade. Ainda mais quando as premissas para tal julgamento são egoístas e atendem exclusivamente aos interesses de um gueto.
3. Qual será a malha da peneira para separar o joio do trigo? Quem poderá definir o momento exato de estancar a escória que desce junto do metal nobre?
4. Num canto de mundo qualquer uma senhorinha se levanta às cinco e meia da manhã. Antes de iniciar os seus afazeres cotidianos ela reza o terço em frente à TV e bebe seu copo de água benta. Quem a julgará merecedora do Reino de Deus? Quem conhece o seu coração?
5. Noutro canto, o rapaz acorda atrasado. Xinga um palavrão pois já começou o dia de mal humor, pega as suas coisas, acende um cigarro e vai para o ponto pegar o ônibus lotado que o levará ao trabalho. Quem o julgará não merecedor do Reino de Deus? Quem conhece o seu coração?
6. Muitos religiosos gabam-se de conhecer as promessas descritas no Apocalipse e as vomitam, prepotentes e arrogantes, de seus púlpitos e altares.
7. Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida...
8. Ao vencedor darei o direito de comer da árvore da vida...
9. O vencedor de modo algum sofrerá a segunda morte...
10. Ao vencedor darei do maná escondido e também lhe darei uma pedra branca com um novo nome nela inscrito...
11. Àquele que vencer e fizer a minha vontade até o fim darei autoridade sobre as nações...
12. O vencedor será vestido de branco. Jamais apagarei o seu nome do livro da vida...
13. Farei do vencedor uma coluna no santuário do meu Deus...
14. Ao vencedor darei o direito de sentar-se comigo em meu trono...
15. Quem escolhe o vencedor? Há dentre vós alguém designado juiz? Antes de tudo, qual será o perfil do vencedor?
16. Será o celibatário? O que escolheu ser virgem até o casamento? O que nunca olhou com desejo a quem não o pertencia? O que nunca traiu?
17. O vegano? O que se absteve do vício? O que bebe vinho mas não bebe cerveja? O que não fuma? O que nunca jogou uma sinuca com os bêbados no bar?
18. A salvação estaria condicionada a ir à igreja todo domingo? Ou será que é preciso dar esmolas? Será útil acompanhar procissões ou pagar penitências?
19. Quem dentre vocês pode erguer a voz para se dizer puro de coração? Quem nunca desejou fazer o mal?
20. Quem não blefou? Quem não omitiu? Quem não mentiu? Quem não armou para levar uma vantagem?
21. Quem não tem uma lista pronta na mente das pessoas que, se pudesse, eliminaria da existência? Não sejam hipócritas!
22. A salvação é fruto da graça, favor imerecido do Eterno aos homens de pequena fé.
23. Não haverá penitência, caridade, orações, ou qualquer rito que os farão merecedores das benesses divinas.
24. Não será a crença ou a incredulidade o critério que os afastará da eternidade, mas a disposição que cada um carrega em si de amar e de se entregar em amor.
25. Já refletiram na estupidez de um Deus que condena a uma câmara de tortura eterna qualquer um que comete deslizes cotidianos? Não acreditem num Deus assim!
26. Um Deus soberano não precisa ficar atento às regras que os homens criaram como forma de organização do mundo, para então decidir a quem salvar.
27. Ele não se permite prender em gaiolas, templos ou estatutos criados para guiar um grupo específico.
28. A sua voz se faz ecoar nos gestos de amor em favor do próximo. No bem que é feito no caminho natural da vida. Simples, sem motivação religiosa.
29. A sua face é reconhecida na mão estendida, no abraço que acolhe, no prato que alimenta, na porta que se abre ao desabrigado.
30. O Mestre já dizia que os verdadeiros discípulos serão reconhecidos se tiverem amor uns para com os outros.
31. A perdição, meus amigos, é para aqueles que rejeitam o amor e propagam o ódio.
32. Todo aquele que usa do poder para oprimir o mais humilde está condenado, não porque a graça seja incapaz de alcançá-lo, mas por não se deixar alcançar por ela.
33. O ser humano se perde, se exaspera, comete equívocos e, neste jogo de tentativa e erro, também acerta muito.
34. Num momento é riso, noutro pranto. E a todo instante o cuidado do Eterno é de amor incondicional, quer creia ou não!
35. Não há tortura para aqueles que seguem em amor. Não há juízo de valor.
36. Não fiquem preocupados com as condições, se alguém segue ou não a liturgia e os costumes. Permitam-se amar e serem amados.
37. Quanto aos que agem por outros sentimentos que não seja o amor, não os julguem. O Eterno é soberano para decidir.
(Imagem: internet)