Carta de amor - Ou "Os Padroeiros do Irreversível"
Salvador, 23 de novembro de 2017
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O sapato alto está do lado do retrato que eu não conheço mais. A sala está cheia de gente... que eu também nem conheço mais. Mas... se o milagre da vida é estar vivo, talvez eu não corra mesmo perigo.
Talvez chegue, ou não chegue... beijinhos no cantinho dos olhinhos... iguaizinhos aqueles que você me deu, um dia. E a escrivaninha já não tem mais poesia. E pra falar a verdade, a falta que você fazia... também ficou no papel e teoria. Mas... se o milagre da vida é estar vivo, talvez eu não corra mesmo perigo.
Gata, acho que não dá mais… Beijo no olhos, beijo no queixo… Beijos de amor em qualquer lugar que vier na cabeça…. Sabe: o irreversível não tem face, mas tem um jeito de ser e de agir. Ele gosta de passar em sua cara lembranças... e as falhas de sua vida num passado curto e num passado distante. O irreversível não vai embora para não mais voltar (como nós fizemos um com o outro...). Ele lhe faz companhia, e te faz chorar, ou ficar ouvindo músicas tristes… Lendo poemas tristes. Assistindo filmes tristes. O irreversível lhe fará perder o sono e duvidar… Criar ódio e resistência a fazer novos planos. O irreversível pode, sim... te matar um dia.
... ele mata o que há de mais bonito em duas almas que se amavam. O irreversível é um câncer, um verme maldito.
Beijo nos olhos... iguais aos que te dei um dia… acho que não dá mais. Pois o irreversível dilacera momentos bons e dilacera as juras de amor... e dilacera as brincadeiras, assim como o sexo e o todos os mimos e caprichos. Aquele mimo feito no dia de seu aniversário... ou no dia dos namorados, Natal... Dias em que se comemora a vida... já que; como têm me parecido tão óbvio… O milagre da vida, é mesmo estar vivo. O milagre de estar vivo…
Dentro do inevitável irreversível.