Ao doutor Rocha....

Prezado Doutor Rocha.

De computador conheço muito pouco. Dizem que UMA IMAGEM vale mais que MIL PALAVRAS. Concordo em termos de 80% (acho que está um bom percentual).

No entanto, entre os meus mais de oitocentos TEXTOS não existe nenhuma IMAGEM. Por uma razão muito simples. Não entendo de computador (repetindo). De mais a mais, comecei a trabalhar e continuo trabalhando sozinho com o danado do computador.

Vamos ver se eu entendi: - IVO OGATA TAKIO, Ivanoterrível, Ivan o Terrível e Ivan Tadeu dos Pobres é uma só pessoa. Até aí tudo bem. E quem é Doutor Rocha?

Uma pergunta de bolso. No nosso dia a dia, o que é mais importante? A VIDA ou a LIBERDADE? Se o Senhor responder as duas coisas, a resposta não tem nenhum valor.

O perguntador, no caso eu, tenta dar a resposta correta: - A VIDA.

As pessoas podem com a VIDA ter as suas LIBERDADES tolhidas. Porém, ainda assim, elas têm a LIBERDADE da VIDA, embora com as LIBERDADES tolhidas ou quase completamente tolhidas.

Exemplo: - A PRISÃO PERPÉTUA, coisa que, no Código Penal Brasileiro não existe na atualidade. Mas, mesmo que uma pessoa esteja condenada à PRISÃO PERPÉTUA, ela continua com a VIDA. Ela poderá passar o resto de sua VIDA num presídio, e, ainda assim, poderá ter a LIBERDADE de FALAR, a LIBERDADE de VER, a LIBERDADE de OUVIR, a LIBERDADE de CAMINHAR (embora num pequeno espaço) etc.

E, a LIBERDADE de LER, e, até mesmo, ter a LIBERDADE de ESCREVER um LIVRO, desde que, seja-lhe permitido LER e ESCREVER.

...Um fictício prisioneiro perpétuo – Tendo ainda o direito à VIDA, ou seja, tendo a LIBERDADE da VIDA, o fictício prisioneiro em questão estava preocupado principalmente com duas LIBERDADES, a saber: - A LIBERDADE de LER e a LIBERDADE de ESCREVER.

A princípio foi-lhe concedido o direito de LER e o direito de ESCREVER.

O prisioneiro gostava de puxar conversa com os carcereiros (entretanto eram conversas curtas). Na boca da noite os carcereiros lhe perguntavam: - Está solitário? Ele respondia: - Estou sempre com o meu JUSTO DEUS! E se despedia do carcereiro dizendo: - Vá com DEUS!

Durante os QUATRO primeiros anos o prisioneiro continuou LENDO e ESCREVENDO. Após esse período, um dos carcereiros foi à sua cela e lhe tomou todas as Revistas, os Jornais e os LIVROS, e, inclusive os seus MANUSCRITOS.

Assim perdeu a LIBERDADE de LER. E perdeu também os seus MANUSCRITOS. O carcereiro disse-lhe apenas: - Foram Ordens superiores! O prisioneiro respondeu-lhe: - Vá com DEUS!

Ele não se fez de rogado. Com ele tinha uma prodigiosa memória ele pensou consigo. Perdi a LIBERDADE de LER, porém tenho ainda a LIDERDADE de ESCREVER.

Decidiu ESCREVER as suas MEMÓRIAS sobre os acontecimentos antes da sua prisão (e os motivos), e ainda mais alguma sobre o que ele vinha CONVERSANDO com os diversos carcereiros durante a sua prisão de agora (a primeira e única prisão).

Aliás, nos primeiros MANUSCRITOS ele já havia ESCRITO alguma coisa sobre alguns dos carcereiros, especialmente sobre a VIDA de um deles.

Passados dois anos, UM BELO DIA (mesmo na prisão deve existir um belo dia), um dos carcereiros veio lhe devolver vários LIVROS (previamente selecionados), mas, não devolveu os seus MANUSCRITOS.

Além do mais, o carcereiro, para a sua surpresa lhe entregou vultosa quantia em DINHEIRO. O carcereiro era aquele que ele tinha dedicado um capítulo especial em seus MANUSCRITOS. O carcereiro disse: - São Ordens superiores!

O prisioneiro indagou-lhe: - E por que o DINHEIRO? O carcereiro respondeu-lhe: - O que você ESCREVEU foi transformado em um LIVRO e, dizem que venderam muitos LIVROS. Falam em milhares ou milhões, e, em vários idiomas. Eu não sei ao certo. Eu também não sei LER... Eu só sei que esta é a parte que lhe cabe! Ordens superiores!

O prisioneiro perguntou ao carcereiro: - E as Revistas e os Jornais? Resposta: - Continuam proibidos! Ordens superiores! E o LIVRO que você disse que foi publicado. Também está proibido! Ordens superiores!

O prisioneiro pegou a metade do DINHEIRO e deu ao carcereiro dizendo-lhe: - Uma parte deste DINHEIRO é para o tratamento de sua MULHER que já completou 65 anos de idade e que já está caminhando com a ajuda de uma bengala. Outra parte é para você poder ajudar os seus dois filhos que tiveram POLIOMIELITE na infância e também para as suas quatro filhas que estão um pouco desamparadas (na verdade estavam passando fome). Outra parte é para você contratar um PROFESSOR para você aprender a LER.

Como você se lembra disso? Perguntou o carcereiro surpreso. Você me contou e eu escrevi nos meus MANUSCRITOS. A sua “estória” deve estar no LIVRO. Aprenda com o Professor a LER e LEIA o LIVRO. Depois você me conta o que está ESCRITO.

Eu, disse o prisioneiro perpétuo, não tenho os meus MANUSCRITOS e não me lembro mais do que ESCREVI. Observação do escriba: - É natural. Eu mesmo já esqueci quase tudo que ESCREVI. No caso do prisioneiro ele estava em parte mentindo, pois, a MEMÓRIA dele era demasiadamente prodigiosa.

Ele tinha uma MEMÓRIA de ENXADRISTA, o que é bem diferente da MEMÓRIA de um ESCRITOR ou de um ESCRIBA.

O presidiário continuou a falar: - Dizem que “enquanto existe VIDA existe ESPERANÇA”. Dizem também que “a ESPERANÇA é a última que MORRE”. Dizem também, que, “quem ESPERA SEMPRE ALCANÇA”. O problema é que eu não gosto do vocábulo ESPERANÇA. Eu prefiro a palavra PERSEVERANÇA.

O presidiário perpétuo olhou para a sua “LIBERDADE de VIDA” (se estar numa prisão é LIBERDADE de VIDA...) e disse a si mesmo: - Irei PERSEVERAR para que com os meus LIVROS de volta, a minha LIBERDADE de ESCREVER seja bem melhor. E voltou a ESCREVER com maior compenetração e com mais rapidez.

O fato, inédito naquele presídio, - de um prisioneiro receber tanto DINHEIRO e dividi-lo com um carcereiro -, se espalhou como um rastilho de pólvora. Todos os carcereiros começaram a CONVERSAR mais com ele e a tratá-lo bem melhor.

Mas, a maioria dos carcereiros ou não sabiam LER ou eram mesmo preguiçosos. O carcereiro que havia recebido a metade do DINHEIRO havia sido aposentado “compulsoriamente”, por tempo de serviço e por causa de alguns problemas leves de saúde.

Na verdade, no meio da “estória” houve o dedinho das tais “Ordens Superiores”.

Aproximadamente UM ANO DEPOIS chega o carcereiro sortudo, orientado pelas tais “Ordens Superiores” para conversar longamente com o prisioneiro perpétuo.

O carcereiro Zé de Jesus (era chamado assim) cumpriu todas as promessas com o DINHEIRO que havia recebido do presidiário perpétuo.

A vida da família havia melhorado muito e a dele também. Casarão novo, carro modesto, mas bom, roupas mais ou menos elegantes, tratamentos médicos para a esposa e os dois filhos deficientes físicos, realizados em países acima do 1º mundo (deve existir – sei lá), enfim uma mudança de vida de 180 graus.

Aos familiares de Zé de Jesus (o carcereiro), foi dada permissão para visitá-lo com certa freqüência, etc. E tais visitas aconteceram várias vezes. No entanto, o LIVRO que o prisioneiro havia ESCRITO continuava proibido para o ESCRITOR. Nem os MANUSCRITOS eram devolvidos! A pessoa não poder LER nem aquilo que a própria pessoa ESCREVEU? Já imaginaram uma gota serena dessas? Podia entrar até comidas bem melhores, e outras guloseimas, mas, o LIVRO não. Nem os MNUSCRITOS.

Tanto Zé de Jesus quanto os seus familiares eram revistados quando a isso. E bem revistados. Não entravam Revistas, Jornais e nem o LIVRO do presidiário. Só LIVROS escolhidos e indicados pelas “Ordens Superiores”.

UM BELO DIA (deve existir um belo dia em presídios – não tenho certeza), o carcereiro Zé de Jesus, muito constrangido, contou a verdade ao prisioneiro Zé de DEUS (era o nome do presidiário perpétuo).

Zé de Jesus e Zé de DEUS tiveram uma cansativa e longa conversa.

O LIVRO ESCRITO por Zé de DEUS só chegaria às suas mãos se ele publicasse um segundo LIVRO. Ordens superiores!

Zé de DEUS concordou com a promessa de entregar o novo LIVRO no prazo de DOIS ANOS. Porém, com algumas condições.

O novo LIVRO seria entregue no presídio a Zé de Jesus e de lá iria diretamente para a Editora Virgem Maria, na Cidade de Nossa Senhora Aparecida, e, lá, direto para as mãos de Tomás de Aquino, um velho conhecido de Zé de Deus. O acordo foi registrado no cartório FELIZ NATAL, com a autorização das “Ordens superiores” do presídio.

Afinal pensavam os Diretores do Presídio, com tanta religiosidade envolvida no “contrato” (Zé de Jesus, Zé de Deus, Virgem Maria, Nossa Senhora Aparecida, Tomás de Aquino e FELIZ NATAL), só poderia ser um LIVRO bem superior ao primeiro.

O conteúdo do primeiro, todos nós sabemos, foi um êxito de crítica e uma fabulosa vendagem. O próximo vai vender mais do que água num verão bem quente. Ou será que o preso é um fanático religioso? Pairou no ar um pouco de dúvida...

O prazo combinado para a entrega dos MANUSCRITOS foi o dia 25 de dezembro de 2018 às dez horas da manhã.

Dito e feito, feito e dito. No dia e hora aprazada, Zé de Jesus chega ao presídio, é revistado pelos sonolentos seguranças (procurando Jornais, Revistas e LIVROS – nada foi encontrado, a não ser um pedaço de peru bem assado destinado ao presidiário perpétuo – Ceia de Natal), e, depois, chega à cela de Zé de DEUS acompanhado de outro carcereiro.

Zé de Jesus entrega o embrulho com o pedaço de peru a Zé de DEUS. Zé de DEUS entrega o volumoso embrulho envelopado e bem amarrado de cordão. Simples. Simples assim. Zé de DEUS disse estar muito cansado, conversou pouco, e voltou logo a dormir.

Zé de Jesus e o outro carcereiro de despedem de Zé de DEUS desejando-lhe Bom Natal, Boas Festas e Boa Ceia.

...UM ANO DEPOIS, aproximadamente, no início de dezembro de 2019, o Novo LIVRO foi lançado sem muito alarde em 128 Países, e, em 32 idiomas. “Apenas” 64.000.000 de exemplares na 1ª edição.

A primeira edição foi esgotada em 16 dias. Uma 2ª edição está sendo impressa.

...Uma semana após o lançamento do Novo LIVRO, Zé de Jesus é assassinado misteriosamente ao lado do BILIONÁRIO George Soros e de outros comparsas.

Embora já soubesse LER corretamente, Zé de Jesus perdeu a principal e a mais importante das LIBERDADES que é a VIDA.

Zé de Jesus já não tem mais a LIBERDADE de LER o segundo LIVRO. Pois ele perdeu a LIBERDADE da VIDA...

Na prisão perpétua, Zé de DEUS após a entrega da encomenda a Zé de Jesus (no caso o segundo LIVRO), recebeu os seus MANUSCRITOS e dois exemplares do primeiro LIVRO.

Achou o LIVRO bom, mais percebeu a alteração de alguns dos seus pensamentos. Está fazendo algumas correções para uma provável nova EDIÇÃO.

...Zé de DEUS ainda na prisão perpétua concluiu a LEITURA do segundo LIVRO de sua AUTORIA em quatro dias.

Soube pelos Jornais do assassinado de Zé de Jesus. Ele já prometeu escrever um terceiro LIVRO, esclarecendo o conteúdo do primeiro LIVRO e do segundo LIVRO. Segundo Zé de DEUS o terceiro LIVRO será mais explosivo do que o segundo.

Mesmo estando preso, Zé de DEUS tem a LIBERDADE da VIDA, a LIBERDADE de LER, a LIBERDADE de ESCREVER, entre outras LIBERDADES. Vamos torcer para que não assassinem Zé de DEUS na prisão perpétua.

Falando em prisão perpétua, parece que o CRIMINOSO e COVARDE Adélio Bispo de Oliveira está condenado à prisão perpétua ou poderá ser assassinado na cadeia. Mandantes, pagantes, advogados e médicos estão rindo à toa.

Alemanha 7 x 1 Brasil. Liverpool 1 x Flamengo 0. Comemorar o quê? A propósito cadê os Restos Mortais de Eliza Samúdio?

Então meu caro Doutor Rocha. Eu luto pela LIBERDADE da Medicina. Eu luto pela LIBERDADE da Saúde. Eu luto pela LIBERDADE da VIDA.

O fictício prisioneiro perpétuo foi preso em 2011. Como a prisão é perpétua, ele continua preso. Vamos esperar o terceiro LIVRO da safra dele.

Que tenha tido um Bom Natal em 2018, que tenha um FELIZ NATAL em 2019 e próspero 2020.

Aracaju, segunda-feira, 23 de dezembro de 2019.

JORGE MARTINS CARDOSO – Médico – CREMESE nº 573.

P. S. – Se o Senhor assim o desejar pode publicar no RECANTO das LETRAS, usando um pseudônimo, e até mesmo alterar o texto. Fique à vontade. A maior parte é mesmo ficção. Como continuo sem entender de computador, gentileza confirmar o recebimento do presente E-mail da seguinte maneira: E-mail perpétuo recebido!