Carta ao Governador do Estado do Pará

Belém, 17 de dezembro de 2019.

Senhor, governador.

Espero que neste momento, você esteja muito bem confortável, em seu gabinete acompanhando o sucesso da ação exemplar do sistema de segurança pública do estado do Pará na manhã de hoje, ou em sua residência, rodeado por seus familiares assistindo aos noticiários pela televisão ou internet.

Aproveito para lembrá-lo que o trânsito foi obstruído nos arredores da ALEPA levando centenas de pessoas a se dirigirem para a região portuária da Cidade Velha a pé, o que me proporcionou acompanhar de perto o tratamento dispensado pelo Estado aos professores que não aceitam ver direitos conquistados com muita luta e sacrifício serem retirados de maneira tão abrupta e sem diálogo.

O fato de ser alvejado pela truculência do estado ao retornar para meu município de domicílio serviu para constatar que eu estava no lugar certo na hora exata e me convenceu que “a sua bomba de efeito moral vem sem moral nenhuma de quem mandou nos atacar e eu não preciso do seu gás lacrimogêneo invadindo os meus olhos para me fazer chorar, basta que eu perceba tantos anos de descaso e de descuido desse estado ladrão e as lágrimas escorrem dos meus olhos e eu sigo firme e forte contra a sua opressão. A sua bala de borracha que acerta o meu corpo deixa marca de um soldado que sofre tanto quanto nós, a diferença é que vestindo esse uniforme e com seu rosto mascarado você não tem direito a voz” (SANTA CRUZ, 2014).

Eu sei que a caneta dos senhores deputados e do governador do estado estão mais manchadas de sangue do que as armas dos policiais que se orgulham de suas operações bem-sucedidas em que batem, quebram e matam não somente os professores, mas todos os outros seguimentos da população que lutam pelos seus direitos e são marginalizados por esse mesmo Estado. Esse sangue que escorre das suas canetas é nosso e as lágrimas também!

Espero sinceramente ter a oportunidade de retribuir o tratamento dispensado pelos senhores deputados e pelo governador do estado que se acovardam por trás dos tiros de borracha, das bombas de gás e do spray de pimenta. Sou professor, minha arma é outra. Termino essas sinceras linhas lembrando aos senhores que eleições vêm e eleições vão, e muitos dos senhores não mais retornarão.

Cordialmente, um professor do Brasil!