Carta de um suicida
Minha filha, antes de você existir eu sonhava com você. Quando soube que sua mãe carregava no meu ventre eu sonhei, pensei, imaginei como seriam seus olhos, seu sorriso, qual o nome. Não sabia se seria do sexo masculino ou feminino. Eu ainda não conhecia o amor verdadeiro.
Quando nasceu eu vi que seria era menina. Já tinha uma, que não cuidei. Fui conduzido pelo amor e vi você crescer. Eu tive medo de errar na educação, errei, como errei, isso eu sei. Ser rígido não é educar.
Hoje tenho medo de ser abandonado. Tenho medo de ficar sozinho. Que ninguém queira minha companhia, inclusive vocês que não ligam para mim. Tenho medo de ser julgado, de que achem que fiz algo errado.
Será que eu quero morrer? Claro que não! Mas as vezes me sinto só, abandonado por vocês filhos que moram longe de mim. Não falam nem pelo Whatsapp, não diz: oi pai, como você está?
Será que um dia vou ser amado? Talvez quando o fato for consumado. Pensar nisso me angustia. Será que terei que me suicidar para ter valor?
Então, talvez a saída seja morrer logo. Se tudo isso acabasse, não haveria mais sofrimento. Trágico. Isso me desanima. Dizem que todo suicida é um covarde. Mas tudo que há de bom é tão breve, ser abandonado e desprezado é pior.
Eu sinto tudo que me acontece ao meu redor. Meu passado, presente e o futuro é algo que não me dá esperança. Vai chegando o Natal, será que serei lembrado?
O pior é que estou preso dentro de mim mesmo. Preso em meus sentimentos. Aonde eu fracassei com vocês filhos?
Até lá vou sentindo esse desejo no meu peito. Ser um suicida poético!