Duas e meia da tarde

Sete do doze de dois mil e dezenove. Escrevo-te de casa, sentada no quarto bagunçado pensando que, após um período exato de 2 meses e 25 dias, finalmente um date pra chamar de nosso.

Estranho me encontrar com você fora da nossa dicotomia de espaços: ora universidade, ora motel. E mais estranho ainda é pensar que após uma série inexplicável de desencontros dialogais, idas e vindas corporais, e um quê de sentimentalismo recalcado, nossos seres cismaram em continuar a se entreter mais que momentaneamente.

Desde o início desta espécie inexplicável de vir-a-ser que criamos em meio ao nosso entrelace conjugal, já sabia eu que meu único respaldo seria sequer manter contatos além dos corporais. Sabia também que te fitar em detalhes, detalhes esses que foram moldando gradualmente sentimentos que escolhi negar e renegar por dias, semanas, e até por quase 1 mês inteiro, descavariam o que minha alma insistiu em não mais querer emprestar. Então, para tentar lidar, meu corpo foi-se auto emprestar ao teu, a outros, e ao mesmo tempo, a nenhum. Quando chamavas-me de “amor de que” até te dava um pouco de razão. Não negava e nem confirmava. Cheguei até a levar isso numa conversa de bar. Fizeram de mim chacota. Ouvi conselhos do tipo “você se auto sabota”, “só faz porque quer se resguardar caso ela fique com outra pessoa”, e outras cositas que não merecem ser escritas. Enfim, apenas chegou um momento qualquer, ainda não sei dizer quando ou onde, que meu bobo e manso coração ecoava pela letra de “último romance”. Literalmente encontrei-a quando não quis, encontrei e quis duvidar de um tanto clichê...

Saudosos e excitantes é o que penso de nossos inúmeros encontros casuais. Falar-te nada embora meu corpo insistia em falar-te tudo enquanto fodíamos por horas... Intermináveis eram os meus desejos libidinais. Incalculáveis os momentos em que me deitava e “je fais le même rêve tous les soirs” – eu tenho o mesmo sonho todas as noites. [...]

Apenas posso dizer que, hoje, mais do que nunca, e infelizmente ainda pautada pelas imposições que a vida ainda me concede viver, sinto algo. Sinto algo que chega ao transbordar do muito e que, às vezes, ou várias vezes, meus lábios retentivos não são capazes de reconhecer. Não é como se eu precisasse de seu aval ou até mesmo de você para o acolher. Felizmente, não dependo de seus sentimentos recíprocos ou da sua vontade em querer comigo permanecer. Mas, como fui premiada, alguma coisa em ti parece também se satisfazer...

Termino-te com um versinho rápido:

"Limerência e efemeridade conjugais trouxeram-me até aqui.

Eis que nossas linhas temporais

e desejos carnais

ousaram denotar-nos com um empréstimo

sem taxa de juros

e, muito menos

sem necessidade de devolução.

Portanto, apenas imploro-te

toma com a boca e as mãos este meu desejo posto

e sirva-se sem o menor pudor!"

Alessandra Gabriela

alesnav
Enviado por alesnav em 07/12/2019
Código do texto: T6813242
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