A 6° carta

Tentar se acostumar aos dias tem sido complicado, eu tenho alguns problemas com dependência nesse caso com pessoas, mais especificamente uma pessoa, minha melhor amiga. Não é algo que tenho me impressionado de alguma forma, no máximo, eu poderia dizer que eu fingi cair na realidade sobre isso, eu sempre soube.

Ela não tem responsabilidades sobre isso, eu me refiro ao lado negativo da coisa toda, a ponto de querer punir ela, jogar alguma culpa sobre os ombros dela, não... Ela é a pessoa mais importante da minha vida, eu digo isso sem medo e ela só é responsável por me fazer uma pessoa melhor, tanto para mim, quanto para os outros. Eu estava escondido atrás de uma casca, dura e forrada de espinhos pontudos, pronto para usar todos eles da pior forma possível, eu estava muito bem encaminhado no projeto de me tornar um filho da puta e digo que teria sucesso, mas aí ela apareceu...

Claro que não foi do nada, mas foi tão natural que não me lembro se teve algum problema no processo todo, ela quebrou os espinhos como se fossem nada e quando eu abri a casca para olhar e até mesmo me vingar de quem tivesse feito aquilo, eu vi o par de olhos mais doces que alguém já poderia ter visto na vida, talvez, uma das raras situações que eu poderia acreditar na existência de Deus. A tal casca foi deixada de lado, eu nunca me livrei dela, afinal, eu não me sentia bem assim com outras pessoas, somente com ela, sendo assim, a tal armadura ainda seria muito útil para mim, mas, com ela, era como se eu andasse pelado, todavia, totalmente a vontade por estar do lado dela. Foi um momento de virada na minha vida.

O tempo foi passando e aos poucos, aquele meu primeiro pensamento do quanto ela era incrível e importante para mim foi sendo concretizado e marcado em mim com ferro quente, ela havia se tornado aquela fogueira que a gente se senta perto numa noite fria no meio de uma floresta assustadora para se sentir seguro, eu me sentia assim com ela, na verdade eu me sinto assim com ela até hoje, apesar d’eu ser mais velho e maior do que ela, é ela que cuida de mim. Há quem coloque o que sinto por ela como algo romântico, não creio que seja o caso, diria até que vai além disso, é um patamar diferente, para mim, é quase como uma adoração, não uma adoração cega, apenas faço dela a minha base e por isso, eu sei que a defenderia com a minha vida.

Óbvio que isso geraria uma dependência da minha parte por ela, talvez, ela até tenha por mim também, mas, é infinitamente maior pela minha parte, eu olho para mim mesmo e penso, eu não faço a mais tenra ideia do que seria a minha vida sem ela, teria que conviver com a vida, mas, não seria a mesma coisa, teria muito menos sabor, muito menos perfume, muito menos cores, principalmente o azul, como eu sentiria falta do raio do azul. Na verdade, eu não gosto nem mesmo de fazer essas considerações sobre isso, não há hipótese que me assuste mais do que essa. Em contra partida, eu agradeço todos os dias por ter ela ao meu lado, sinto que é um privilégio ter ela por perto, poder participar das coisas dela, saber que ela gosta que eu participe das coisas, eu tento respeitar as vezes que sinto que estou sendo “chato” para dizer o mínimo, tarefa delicada, pois, uma simples repreensão dela faz tremer a minha alma ao considerar que com uma bobagem assim, eu poderia perder ela.

Eu acredito nas máximas de que amizade verdadeira não acaba assim, amigos de verdade fazem isso, mas, eu também não tenho a menor intenção de fazer vocês entenderem como me sinto com relação a isso, é algo totalmente particular, só digo, pois, faz parte da questão toda. Bom, o tempo passa e cobra certo distanciamento, não de forma radical, mas, apenas para se adequar ao ritmo que cada pessoa adquire e não problema nenhum nisso, mas, admito que para mim, tem se tornado uma questão totalmente nova e difícil de adaptar, eu me sinto tentando me desintoxicar de algo, eu não gosto dessa analogia, parece que ela é algo negativo e ela não é negativa em nenhum sentido, mas a sensação é essa, ficando longe de algo que sinto total necessidade, no entanto, acreditem, se eu tenho a força necessária para conviver com isso, foi ela quem me ajudou a adquiri-la, se não fosse por ela, talvez eu nem estivesse escrevendo essa carta, nunca se sabe...

Henrique Sanvas
Enviado por Henrique Sanvas em 06/12/2019
Reeditado em 07/09/2020
Código do texto: T6812473
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.