Devagar
É divertida a jactância de pensar que tenho a habilidade imodesta de te arrancar sorriso com lágrimas com essa minha letra, com as palavras que elas formam, com os significados que se amontoam e coadunam linha após linha, extraindo dos confins do meu ser modos de te descrever e àquilo que me causa.
É aguda e angustiante a possibilidade de que as estradas tortuosas dos dias possam separar nossos caminhos, incutindo neles paranoias e "e se, e se, e se" ao nosso redor, tolhendo-nos dessa coexistência simbiótica e simétrica que apre(e)ndemos a ter, fazendo-nos novamente estranhos, novamente existências reciprocamente alheias - talvez antagônicas, até.
É uma delícia ter em você essa multiplicidade de sentires ambivalentes que digladiam em pulsão diária em mim: ter o medo contrapondo certezas, as incertezas contrapondo as projeções que fazemos de futuro (eu prometendo segurar suas tetas caídas de sexagenária daqui 40 anos ou, por exemplo, o áudio que você mandou falando sobre quando casarmos e comprarmos nossa casa), as dúvidas dirimidas com um abraço.
E te ver como arte.
E te ter como arte.
Debruçar sobre papel e caneta e emergir da memória seus poros, seus almíscares, seu calor, seu odor.
Te tenho aqui. Comigo.
Continuarei tendo em expansão contínua a cada dilação do espaço-tempo nessas translações malucas. Feliz terço completo da primeira delas contada daquele "ah, mas eu quero" que tanto gosto de rememorar.
02/12/2019