De volta pra casa?
Eu sempre optei em meus textos selecionar o estilo de carta, porque acreditava que seria um campo aberto para que escrevesse tudo! Sem cuidado, sem filtro, sem delicadeza... Eu jogava as palavras com a mesma intensidade que elas iam surgindo, as vezes atropeladas, confusas, mas carregadas. Escrever é uma ato de libertação, é um registro de uma voz, muitas vezes silenciada, mas, viva e pulsante em meios as letras e palavras.
O homem é a palavra, ele é o sentido e ele é tudo aquilo que faz. Hoje eu retorno a escrever depois de tanto anos longe daqui, do meu recanto, não sei se hoje vai ser uma visita, se vim de mala e cuia, se é só uma passada, mas de qualquer forma o sentimento é nostálgico, é como se eu estivesse na casa de minha vó, tudo parado no tempo, aconchegante, porém, eu estando a pessoa mais mudada.
Agora entendo porque eu sempre escolhi o estilo de carta, não foi pra ser minha tela em branco, foi pra mim... Foram cartas que eu escrevi pra mim, pra guardar, registrar e ver quem eu fui e quem eu sou hoje, mas sem deixar de ser EU.
Eu olhava para trás com muito pesar, com muito medo, com muitos arrependimentos de ter feito coisas e me colocado em situações nas quais eu não tinha consciência do que eram, eu me culpei por muito tempo pela falta de experiência que eu não tinha e é engraçado como eu não percebi uma coisa: Que as coisas tinham que ser daquele jeito e não importa o quanto eu imagine que o meu eu de agora, se pudesse voltar ao passado, faria diferente, ainda assim, não mudaria. Eu tive que ser naquele momento, para poder ser agora.
Eu tive que sofrer, causar dor, para ter a "experiência", não dá pra cobrar algo que já foi e que não havia naquela época, hoje, você que lê ou leu meus textos, talvez tenha uma impressão muito amarga e dolorosa do que eu senti, mas, nesse exato momento, posso lhe dizer que olho para os meus textos e vejo com carinho meu passado, as cartas que escrevi para mim, embora carregadas de sofrimento, são na verdade um recado, uma afago e muitas vezes revelam uma direção: A de que eu me reconecte comigo mesma e seja eu, com as cicatrizes, o passado, o presente e o futuro incerto e que não me proíba jamais de errar...
Agora que você, eu do futuro, leu tudo isso que se torna passado a medida que escrevo cada palavra, entenda, que esta carta te mostra o caminho, é pra você olhar com carinho um eu que te representa no momento e que pede pra seguir independente das adversidades, porque a vida é uma só e seria sem graça trilhar um caminho sem desafios pra gente vencer e se achar o máximo (risos). Boa sorte em ser você...