Carta ao meu amor V
Céu Azul, 18 de janeiro de 1989.
A minha alma está vestida com um sentimento belo que nasceu quando te conheci. Ela desfila nas avenidas da felicidade e sorri daquilo que passou na minha vida. O hoje se faz presente no meu viver, me dá forças e coragem para caminhar até mesmo na escuridão porque os buracos da minha estrada foram cobertos pelos teus passos. Guardo a alegria de receber flores das tuas mãos, de sair dos sonhos e calçar as sapatilhas que bailam diante da esperança. E quem sabe esperar alcança aplausos do destino.
Sonho contigo. Sonhos vestidos de desejos, de amor, de saudade que canta a sinfonia dos surdos com a tua distância; sinfonia esta que só eu posso sentir a sua intensidade. Durante toda a minha vida desejei muito encontrar alguém para amar sem medo de tropeçar nas pedras da inveja, do medo, da incerteza e principalmente do não-querer. Eu te quero muito e isso está escrito nas paredes da minh’alma. Se as gavetas dos teus sentimentos estão cheias de roupas que ainda exalam o perfume do passado eu não me importo, porque posso tingir tecidos e pregar botões novos em roupas velhas. Ainda ontem te disse que iria lutar pelo teu amor, mas não posso ser egoísta pensando somente em mim. Se amanhã as lágrimas continuarem molhando os quadros que a minha retina colorir ainda assim subirei degraus em busca dos dias que iniciaram a nossa história.
No edifício que pensei construir a morada do meu amor alguém chegou antes e colocou um alicerce de pedras enquanto o meu era de flores. Eu beijo os ponteiros do relógio e me abraço com o tempo que contou a nossa história. Me fiz mulher nos teus braços e perdi as esquinas que os transeuntes insistiam em me fazer passear. Esquinas que choravam quando a solidão passava e a tristeza vinha cantar de madrugada.
Tenho, agora, momentos que estão registrados nas minhas lembranças. Viverei com eles até quando Deus permitir e sei que durante muitas noites eles me farão feliz porque momentos grandiosos ao teu lado foram muitos. Ainda penso em lutar, mas penso em ti e nas tuas palavras e coloco freios no anel do meu caminhar. Eu não posso mudar a cor do crepúsculo, mas sei que posso alcançá-lo com a força dos meus sentimentos. A bagagem que guarda os nossos momentos está pronta para embarcar na estrada da minha vida. Corro atrás do que podia ter feito e só encontro o mel das abelhas já pronto, eu não posso fazer mais nada porque tudo eu fiz. Só me resta conversar com o tempo e fabricar sonhos novamente.
Assim encosto-me na janela da minha casinha à espera de que um dia tu venhas novamente a abrir as minhas cortinas. Eu te amo e te desejo de corpo e alma. Pedi a Deus uma chance, que Ele iluminasse tua decisão. Hoje eu choro de tristeza, saudades e ciúmes. Quem sabe amanhã eu sorria novamente.
Da tua poeta.