Cartas para Dona Ana, minha mãe - Coragem, finalmente
Quando da tua passagem em 2004, pensei que poderia começar a escrever para você. Nunca fui de falar muito, mas escrever poderia me ajudar a enfrentar o mundo filhodaputa que se apresentava então.
Comecei várias vezes e acabava conversando contigo verbalmente mesmo. Eu tinha a arrogante certeza de que você me escutava. O corajoso aqui precisava disto.
Tem uns 15 anos já e as coisas aconteceram com altos e baixos. Tive tranquilas caminhadas na praia e dias de escalada em montanhas cheias de merda.
Mas quando pensava em você, eu podia voar. Isso melhorava tudo.
Continuei a estudar. Livros continuaram a cair da minha cama e quase sempre ainda durmo com os oculos. A novidade é que estou com mais de 50 agora e finalmente uso oculos bifocais. Daquele tipo que a senhora nunca quis usar.
Escritório em casa funciona, mas não chega perto dos meus tempos de multinacional. Uso menos roupas sociais, mas cuido delas direito. Aprender a me virar em casa foi parte da educação que tive com você. E aprender sempre liberta.
Casei. Você já deve saber disso, mas vou responder às tuas perguntas numa próxima carta.
Ah, tá ok, vou adiantar alguma coisa. Ela é concursada e tem dois empregos. Pode ter cidadania italiana a hora que quiser. Pronto, agora só faltam umas duzentas perguntas sobre ela …
Até.