Carta de Retorno
O primeiro texto que escrevi foi em 2012, sobre direção perigosa. Em meio a datas e lembranças, comecei a ler meu ultimo texto, sobre um personagem chamado Cachorro Louco. Hoje, será que eu continuaria esse texto? Não terminei.
Comecei no passado a ler parágrafos incompletos, em parte temeroso com o que eu era, não por vergonha, mas porque olhar pra trás pode me fazer tropeçar de alguma forma. Encontrei lá no passado os meus Haikais, a forma de arte que eu encontrei em uma longínqua feira do livro, onde uma professora aposentada (que posteriormente viria a ser uma amiga) ministrou um curso sobre o tema. Tenho até hoje o livro dela, e por um bom tempo mandava haikais para ela. Meus textos foram ficando curtos, em geral. A estrada das três linhas me conduziu a produzir uma ideia de um Grande Ensaio, de construir a história da minha vida a partir de haikais. Interpreto assim minha decisão de reduzir o tempo e espaço em três linhas de possibilidades infinitas.
Hoje recomeço a escrever? Não, sim? Sinto saudades disso? Escrevi a poucos dias um texto que não gostei. Lendo meus textos do passado eu vejo uma qualidade boa, mas porque na época não via isso? Será a narrativa do pequeno? Talvez seja a hora de não ser pequeno. De voltar a algo que eu não sabia que existia. Uma fome indescritível de escrever. Conceber o impossível a partir do que me é palpável, a distância relativa entre o peso que faço na cadeira, nesse exato momento, e o choque elétrico que percorre as placas de cobre riscadas que me permitem descrever meu passado dentro de uma plataforma digital improvável que nem o mais louco dos copistas conseguiu imaginar, preso em seu mundo de letras eternas, sempre a ser invisível na tarefa dolorosa de reescrever o que nunca foi dito.
Termino a poética absurda dessa carta de recomeço para dizer que o brilhante futuro pode ser um reflexo e apenas isso.O futuro que se projeta não tem respaldo no mundo senão no momento que é delirado. Quando deixou de ser um delírio, passa a ser tão passado quanto a tecla que eu bati a dois minutos atrás, enquanto escrevia esse texto.
Talvez por isso que exista Futuro do Pretérito, Pretérito Mais-Que-Perfeito.
O foi que fora, mas por acaso seria?