Saudade
Vó,
Hoje à noite eu levei chuva. Vaguei pelas ruas do bairro e fui invadido por uma chuva que energia de mim. Eu senti saudade.
Eu andei pelo meio da rua, alguns faróis a refletir em meu rosto, a chuva que saira de mim, cai agora do céu, era o encontro das nossas lágrimas.
Eu sinto tua falta. Como é doloroso saber que estás noutro plano, ainda que tenha eu certeza de que estás num lugar melhor que nós. Eu ouvi o timbre da tua voz e não havia espaço para ouvir mais nada, estávamos apenas nós dois caminhando contra o vento, enquanto a chuva caía sobre meu corpo.
Tanta coisa mudou por aqui desde que a senhora foi embora. Como eu sinto saudade de conversar com a senhora, ouvir seus gritos, suas reprovações, ouvi-la me pedir para "limpar o fogão, porque só eu limpo do jeito que a senhora gosta", que saudade de tudo o que a senhora é.
Os dias frios são mais intensos sem a senhora por aqui. Parece que foi ontem que fez uma viagem para o outro lado, mas é tudo tão presente por aqui. Eu não costumo dividir minhas dores, mas tá tudo tão complicado, vó! Como seria maravilhoso tê-la por perto para me aconselhar no que fazer, como seria incrível tê-la por perto para me dá o abrigo do qual preciso.
Tenho saudade de, ao final de cada mês, ir ao banco com a senhora "pendurada" em meus braços, com medo dos carros. Eu tenho medo de não te encontrar um dia.
Um medo real de não reconhecer a senhora quando os meus olhos se fecharem.
As coisas estão difíceis por aqui, mas já foram piores, admito. O problema é que às vezes eu só queria teu abraço, sentir teu cheiro, ouvir teus gritos loucos. Mas a única lembrança que tenho é a daquele "ronco" que te levou para o lado de lá. Olha por mim, por todos nós que aqui ficamos.