Um amigo do trabalho.

Rio de Janeiro, 30 de Janeiro, 1988.

Hi, Fábio,

How do you do, man? I’m fine. Everything round here is fine.

E aí, manelage, tá tu bem contigo? Eu espero que sim. Fazia tempo que eu não escrevia alguma coisa em Inglês. Poxa! Tremendo cartão de natal aquele. Gostei muito, valeu mesmo! Eu acreditava que você já tivesse perdido o nosso endereço.

Fábio, por aqui muita coisa mudou. O Nelsão saiu da União. Não trabalha mais na empresa. Mas vem sempre ao Rio e mantém contato conosco. Agora temos outro cara gerenciando o escritório. O Marcão continua com a gente. O Claudio está mandando brasa no serviço. E o Carnevale continua o mesmo, sempre naquele jeitão de boa praça dele, não mudou nada. Este novo gerente quer todo mundo na rua trabalhando. Está trazendo o Damiere de volta pra também vender aqui no Rio, e deverá contratar mais vendedores. Eu me preocupo em fazer o meu trabalho, e com certeza estou me empenhando muito mais do que antes. Ando feito camelo no deserto e estou correndo mais do que o Joaquim Cruz. Isso sem contar com o sol e o calor que tem feito aqui no Rio. Nem os gatos aguentam. Até eles estão tomando banho de chafariz na praça. Apesar de toda a nossa dedicação, as vendas continuam fracas. Pior do que isso, tá uma M! No geral mesmo o Brasil sofreu um estupro e não consegue se recuperar, continua deitado em berço esplêndido. Você fez bem de ter ido morar fora. Só espero que, por aí, a sorte esteja do seu lado. Fiquei contente de saber que você mudou para um apartamento maior e agradeço o convite para lhe fazer uma visita. Sei que, ao contrário do Rio de Janeiro, em Nova York tem feito um frio de dar inveja aos pinguins da Antártida. E eu, como bom carioca, prefiro fazer companhia aos gatos daqui mesmo, sacou?

Eu vou parar por aqui. Em havendo novidade eu escrevo para te informar. Um forte abraço.

Atenciosamente,

Adalberto.

PS.: Se nos mandar um cartão postal, já saberemos que não se esqueceu da gente. Falei no escritório que ia responder o teu contato, a turma pediu para informar que, além de mandar um forte abraço, deseja muita Boa Sorte para ti, sempre.

Obs. Encontrei esta cópia dentro de um livro e decidi apresentar a vocês, foi mesmo uma carta que escrevi e mandei para o meu amigo Fábio. Manelage era uma gíria que ouvimos de alguns mineiros de Altos Pinheiros, em Belo Horizonte; usavam para chamar o sujeito de otário, vacilão, idiota... e que, na época, adotamos para nos cumprimentar.

Dilucas
Enviado por Dilucas em 07/08/2019
Reeditado em 03/03/2024
Código do texto: T6715006
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